Título: Crise econômica deve piorar no mundo, dizem ganhadores do Nobel
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2009, Brasil, p. A3

A crise financeira mundial não chegou à sua metade, havendo risco de piora no curto prazo. O Brasil encontra-se em vantagem e poderá se recuperar mais rapidamente que outras economias; ainda assim, sofrerá perdas devido às influências do mercado internacional. Essas são conclusões dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, Edward Prescott e Robert Mundell, que participaram de evento realizado ontem em São Paulo.

"Estamos no fim do começo, mas não no começo do fim", afirmou Joseph Stiglitz, economista americano vencedor do prêmio Nobel em 2001, sobre o momento atual da crise internacional. Para ele, a economia global vive um ajuste de estoques, mas ainda há grandes fraquezas nos setores financeiro e automobilístico americano, que dificultam a recuperação. "Ainda pode haver algum novo capítulo da crise, mas o mais provável é que continuemos neste mal-estar, com sinais de leve recuperação, mas sem nada efetivo."

Robert Mundell, vencedor do Nobel de economia de 1999, acredita que o mundo está a dois quintos do processo total da crise. "Os EUA estão iniciando sua chegada ao fundo do poço neste semestre, ou no próximo. Depois vem uma recuperação lenta", afirmou Mundell. Para a Europa, porém, o especialista não vê início de recuperação no curto prazo. "Acredito que só no fim do ano a União Europeia chegará ao fundo do poço", disse.

Também premiado com o Nobel, em 2004, Edward Prescott fez a análise mais pessimista. Ele acredita que o pior da crise ainda está por vir. "[O presidente dos EUA, Barack] Obama fez com que o clima de confiança piorasse. As pessoas se amedrontaram com o resgate dos bancos e agora param de investir", afirmou. A Europa, disse, estará ainda pior, devido ao seu "pesado" sistema tributário.

Para o Brasil, as previsões são menos pessimistas. Os três prêmios Nobel acreditam que o Brasil pode ter uma recuperação econômica mais rápida que outros países. Stiglitz observou que o Brasil foi um dos países que adotou uma boa política monetária e possui um sistema bancário melhor regulamentado. O fato de o país ser menos dependente do comércio mundial também pode colaborar para sua retomada. "O Brasil acertou, hoje tem espaço para cortar as taxas de juros e avançar", afirmou.

Na avaliação de Prescott, o Brasil pode sair bem da crise, tem condições de apresentar uma recuperação mais rápida que outros países em desenvolvimento e acompanhar os países industrializados no futuro próximo. Mas essa recuperação depende de fatores como a liberação da concorrência entre os Estados como ocorre nos EUA, a maior integração do Brasil com os países avançados e o avanço das multinacionais brasileiras no exterior, o que mostraria solidez da economia e atrairia ao país mais investimento estrangeiro. "A concorrência entre os Estados seria algo muito produtivo para o Brasil."

Mundell, mais pessimista, afirmou que os Estados Unidos deverão perder dez anos de crescimento econômico até o fim da crise e que o resto do mundo, em função da interdependência com a economia americana, sofrerá perda semelhante, inclusive o Brasil.

Delfim Netto, professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP e ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto vê possibilidade de recuperação da economia brasileira já no segundo semestre e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% em 2010. "Não vamos voltar a crescer como antes, mas vamos crescer", afirmou. Delfim disse ainda que o PIB cresceria 2% ou até 4% se o Banco Central não tivesse demorado para agir, baixando a taxa de juros (Selic). Ele ainda acrescenta como fatores que favorecem o país o fato de o Brasil ser o único dos Bric com democracia constitucional em funcionamento, ter as reservas pré-sal e energia renovável (sem risco apagões no futuro) e uma relação dívida/PIB ainda saudável.

Os economistas criticaram o pacote Obama, sobretudo a elevação de impostos sobre empresas, o que tende a reduzir mais o interesse em investir. Stiglitz, defendeu uma "segunda rodada de estímulo". A criação de políticas para evitar a existência de bancos grandes demais para quebrar no futuro, o uso do DES (moeda do FMI) como moeda global e a criação de uma rede de proteção financeira para emergentes via reservas globais também são apontadas por ele como opções. (* Do Valor Online)