Título: Algodão vira uma aposta apenas para gigantes
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Agronegócios, p. B10

Contrariando as estatísticas, os gigantes do algodão vão manter e outros vão até mesmo aumentar a área plantada com a pluma no Brasil em 2009 e 2010. Nesta safra, a 2008/09, a área plantada com o algodão deve cair 20,7%, na média do país, para 854,5 mil hectares. Grandes grupos, como SLC Agrícola, e produtores "gigantes" de Mato Grosso e Bahia vão apostar suas fichas no cultura. Divulgação

Walter Horita, presidente da Aiba e produtor de algodão: área ficou mantida

A razão é simples, segundo os produtores da pluma ouvidos pelo Valor. Enquanto a perspectiva de demanda global é de queda para 2009, por conta da crise financeira global, muitos produtores migraram para os grãos. Esse raciocínio é observado nos Estados Unidos, Brasil e em outros importantes países produtores da pluma, como a Índia e Paquistão.

"A produção cai e os preços sobem. Com produção menor, não terá oferta para todo mundo", diz um dos maiores produtores do Mato Grosso. Com 37 mil hectares plantados em uma área nobre do Estado, a região de Pedra Preta, esse agricultor tem registrado aumento médio de 20% a 30% por ano na área plantada com algodão. Nesta safra, ele manteve a área e elevou a aplicação de insumos nas lavouras. Na próxima temporada, poderá elevar a área. Ontem, em Nova York, os contratos de maio fecharam a 47,37 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 248 pontos. Em 12 meses, a desvalorização chega a 34%.

Walter Horita, um dos principais produtores de algodão da Bahia, também manteve intacta a área dedicada à cultura nessa safra. O plantio ocupou 18 mil hectares, segundo ele. A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do país, superado por Mato Grosso.

"Em um intervalo de 75 dias, desde quando atingiu o pico, em março, o preço do algodão caiu praticamente pela metade. Os preços já caíram demais", avalia Horita, que neste ano passou a presidir a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). "A melhor arma para enfrentar esse cenário é manter a produtividade alta. Não dá para reduzir a tecnologia".

Ontem, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) informou que o plantio de algodão já foi concluído em mais de 98% das lavouras da região oeste do Estado - que, por sua vez, é responsável por 96% do algodão produzido na Bahia. A área foi reduzida em 3,9%, de 293 mil para 282 mil hectares. Embora o corte de área definido pelos produtores de algodão da região contraste com a decisão de Horita de manter intacta a área para o cultivo da fibra, essa queda acabou sendo menor que a esperada. Na semana passada, em entrevista ao Valor, o presidente da Aiba disse que a diminuição das lavouras de algodão do oeste baiano ficaria "entre 6% e 7%".

A SLC decidiu aumentar a área plantada com a pluma. A cultura é, ao lado da soja e do milho, o carro-chefe da empresa. Segundo Arlindo Moura, presidente do grupo, a área com a pluma ocupa neste ciclo cerca de 65 mil hectares, ante os 55.122, alta de 11,8%, sobre 2007/08. Segundo ele, o algodão deverá ocupar um terço do total da área plantada da companhia, atualmente em 220 mil hectares. Das 11 fazendas da companhia, nove plantam algodão. "As outras duas estão em fase de preparação do solo", afirma Moura.