Título: Brasil é um dos países com maior desigualdade salarial, revela OIT
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2008, Brasil, p. A2

O Brasil tem as maiores desigualdades de salários no mundo entre os 10% que ganham mais e os 10% que ganham menos, ao lado da China e dos Estados Unidos, de acordo com relatório publicado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Entre 1990 e 2005, a diferença de renda entre os mais bem remunerados e os menos pagos aumentou em 70% nos países pesquisados pela entidade.

O estudo mostra que no Brasil a produtividade superou consistentemente a alta de salários, que chegou a ser negativa entre 1990 e 2005. Como resultado, a parte salarial no Produto Interno Bruto (PIB) declinou de 45% em 1990 para 39% em 2005.

A OIT destaca também a desigualdade no "complexo" sistema tributário que "afeta mais os pobres", com as taxas indiretas neutralizando o efeito do imposto progressivo. Em 2004, quem ganhava até dois salários mínimos por mês no país gastava 46% com imposto indireto, comparado com 16% para os que ganhavam mais de 30 salários mínimos. A entidade diz que essa taxação aumentou em 21% o numero de pobres entre 1990-2004.

A qualidade do emprego também é questionada. A entidade diz que o país conseguiu aumentar os postos de trabalho em 2% desde 1990, com a criação de 1,6 milhão de postos de trabalhos somente em 2007, e o emprego urbano aumentando 10% no período.

Só que o trabalho informal ainda representa 70% do emprego total no país, ou seja, grande parte é tipicamente precário, sem proteção social e mal pago. Na América Latina, os trabalhadores no setor informal ganham 43% em média a menos do que aqueles com emprego com carteira assinada.

No geral, porém, o relatório é positivo em relação ao Brasil, assinalando que o país reduziu a desigualdade de renda desde 1990, embora continue a ser um dos campeões mundiais na categoria. Para a OIT, Brasil, Malásia e Maurício são exemplos de que é possível crescer, ampliar empregos e reduzir as desigualdades.

A entidade acredita que o país deverá ser menos afetado pela crise atual, mas haverá baixas nas exportações, na produção industrial e na captação de investimentos estrangeiros diretos. Globalmente, a OIT alerta que a disparidade de renda pode aumentar ainda mais, como custo da crise econômica e financeira, prevendo alta de 6,1% no desemprego este ano.

Entre 1990 e 2007, o emprego global cresceu 30%, mas a a diferença salarial subiu em 51 de 72 países pesquisados. O crescimento do emprego foi acompanhado de uma redistribuirão de renda em detrimento do trabalho. O mais forte declínio na parte de salários no PIB ocorreu na América Latina e Caribe (-13 pontos percentuais) , seguido pela Ásia e Pacifico (-10 pontos) e economias desenvolvidas (-9 pontos).

Entre 1990 e 2005, em cerca de dois terços dos países a renda total dos que ganham mais cresceu mais rapidamente do que a daqueles com renda menor. A disparidade aumentou também entre quadros dirigentes e empregados médios. Em 2007, os dirigentes das 15 maiores empresas americanas ganhavam em média 520 vezes mais que o salário médio de um empregado, comparado a 320 vezes em 2003.