Título: Ação da Cemig cai quase 14% e derruba Bovespa
Autor: Sorima Neto, João
Fonte: O Globo, 21/03/2013, Economia, p. 28

Mercado estima receita menor para elétricas com revisão de cálculo da Aneel

As ações das companhias elétricas voltaram à cena e pressionaram ontem o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que fechou em queda de 0,59%, aos 56.030 pontos e volume negociado de R$ 7,7 bilhões. Segundo analistas, a baixa foi resultado da reavaliação na base de remuneração das distribuidoras, anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Pelos dados publicados ontem, a base de remuneração líquida da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) Distribuição, que está passando pelo terceiro ciclo de revisão, ficou em R$ 5,1 bilhões - valor bem abaixo dos R$ 6,71 bilhões divulgados em documento preliminar. Como resultado, as ações PN da empresa apresentaram a maior queda do pregão: 13,95%, a R$ 22,20. Já as ações ON da Light despencaram 6,20%, a R$ 19,05. A companhia vai passar pelo mesmo processo de revisão em novembro.

- Todas as distribuidoras estão passando pelo terceiro ciclo de revisão e era a vez da Cemig. O que causou estranheza no mercado é que a Aneel não deu justificativas para a redução do valor base de remuneração da companhia - disse a analista Beatriz Nantes, da Empiricus Research/Investmania.

Segundo a analista, para chegar ao valor de remuneração, a Aneel reavalia os ativos da empresa. A partir desse número, é estabelecido o percentual de reajuste das tarifas. Na prática, uma base de remuneração mais baixa significa ganhos menores para a empresa.

A Cemig perdeu, apenas ontem, R$ 3 bilhões de valor de mercado, passando a valer R$ 18,971 bilhões. Com as vendas maciças, os papéis da Cemig tiveram um giro financeiro de R$ 526 milhões, o maior de sua história. As ações tiveram a maior queda desde o dia 12 de setembro do ano passado, quando os papéis caíram 19,71%, após o governo federal anunciar a Medida Provisória 579, revendo a política de concessões para baixar a tarifa de energia ao consumidor. A Cemig não aceitou a proposta para o governo.

Segundo relatório do banco Credit Suisse, a medida deve afetar o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Cemig, que pode apresentar recuo de 24%.

"Nao sabemos ainda a razão para a decisão da Aneel, mas com o resultado esperamos uma queda no Ebitda na casa de 24%, caso não se confirmem novas alterações", diz o documento. "Agora esperamos que esta decisão traga novamente incertezas com potenciais novidades negativas para o setor", acrescenta.

A Abrace, associação que representa os grandes consumidores industriais de energia, já tinha questionado o valor inicial de R$ 6,7 bilhões como base de remuneração líquida dos ativos da Cemig para o período 2013-2016. Para a entidade, o número estava inflado. A Abrace apresentou um documento de 23 páginas à Aneel, durante audiência pública para discutir o valor da revisão tarifária, contestando o valor que considerava elevado.

Diretor da Cemig se surpreendeu

Segundo o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla, a alteração da base de cálculo feita pela Aneel já estava prevista e tem sido menos favorável para todas as empresas. Em teleconferência com analistas, o diretor informou que a base de remuneração menor não reflete o desempenho da empresa nem está vinculada à desvalorização de ativos.

- É uma questão metodológica. Tudo aconteceu dentro do que esperávamos. Por isso, estamos surpresos com a reação do mercado - disse.

Rolla disse que a empresa já tinha em vista a redução de caixa quando fez este ano nova emissão de debêntures. Em março, a Cemig Distribuição captou R$ 2,160 bilhões na terceira emissão de debêntures. Por isso, desde o ano passado, havia a previsão de queda em torno de 30% no Ebitda, disse o diretor.

- O nosso endividamento está controlado.

A queda da Cemig influenciou todo o setor. Os papéis ON da Energias do Brasil caíram 2,80%; as ações ON da CPFL perderam 2,04%; Copel PNB recuou 2,92%; Eletrobras ON caiu 4,28%; PNB perdeu 4,41% e Eletropaulo, 4,15%.

Já entre as ações com maior peso no Ibovespa, Vale PNA (sem direito a voto) recuperou-se das recentes perdas e subiu 2,04%, enquanto os papéis ON (com direito a voto) da mineradora avançaram 2,29%, impedindo uma queda maior do Ibovespa. Já Petrobras PN perdeu 1,30%. Entre os destaques, estão ainda OGX Petróleo ON, que subiu 4,38%; Itaú Unibanco PN, que ganhou 0,86%; e Bradesco PN, com alta de 0,89%.

O dólar comercial fechou em alta de 0,15% frente ao real, sendo negociado a R$ 1,988 na compra e R$ 1,990 na venda. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 1,993 e na mínima bateu em R$ 1,980.