Título: Aliança do Pacífico se fortalece e Mercosul fica à sua sombra
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Fonte: O Globo, 24/02/2013, Mundo, p. 44

México, Colômbia, Peru e Chile vão eliminar tarifas comerciais

Eliane Oliveira

BRASÍLIA Enquanto o Mercosul, notadamente Brasil e Argentina, se fecha com medidas protecionistas e enfrenta dificuldades para encontrar novos sócios, México, Colômbia, Peru e Chile decidiram seguir um caminho mais curto para a integração comercial. Os quatro países, que em meados do ano passado criaram a Aliança do Pacífico, vão eliminar, até o próximo dia 31 de março, as tarifas aduaneiras de 90% do total de produtos comercializados entre suas fronteiras.

O novo bloco, que disputa com o Mercosul a adesão de mais países, assusta o empresariado brasileiro, que teme perder espaço para os mercados asiáticos, especialmente China, Coreia do Sul e Japão. Efeito semelhante pode ser esperado para Estados Unidos e União Europeia, que já mantêm tratados comerciais com alguns integrantes da Aliança do Pacífico, como México e Colômbia. As maiores perdas se dariam nos embarques de produtos industrializados.

Desvio de comércio

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaoadi, a tendência esperada é o desvio de comércio. Ou seja, as importações desses países vão se deslocar para outros mercados.

- A América do Sul é como se fosse nosso primeiro ponto de exportação, pela facilidade e mobilidade. Essa aliança não ficará só entre quatro países. Vai se lançar para novas direções - previu Abijaoadi, lamentando o fato de o projeto de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ter sido sepultado no início do governo Lula.

Já são aguardadas as adesões da Costa Rica e do Panamá à Aliança do Pacífico. Por sua vez, o Mercosul acaba de ficar maior com a entrada da Venezuela, fechou acordo com Israel e está em vias de concluir as negociações com países do Golfo Pérsico.

Segundo uma fonte do governo, com um projeto que pretende ter grande envergadura regional, com a atração de novos membros, a Aliança do Pacífico começa a rivalizar com os planos de integração do Mercosul. O Paraguai, por exemplo, suspenso do bloco do Cone Sul por causa do impeachment do então presidente Fernando Lugo, já vem insinuando, há algum tempo, que poderá se voltar para a Aliança do Pacífico. Os paraguaios já teriam solicitado sua participação como observadores.

Procurados, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior não se manifestaram formalmente sobre o novo bloco. A estimativa é que a Aliança do Pacífico corresponda a 40% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) da América Latina.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, a Aliança do Pacífico é uma iniciativa extremamente importante na América Latina. Vai ao encontro do mundo globalizado, que tem como ponto forte a internacionalização dos processos produtivos.

- Precisamos saber se o protecionismo não deixou de ser um instrumento eficaz de proteção da indústria nacional. À medida que as tarifas são elevadas, com políticas diferenciadas para produtos nacionais e estrangeiros, é inibida não só a importação de bens de consumo estrangeiros, mas também as compras no exterior de insumos - comentou Castro Neves.

Passos lentos no mercoSul

De acordo com o presidente do Cebri, o Mercosul anda a passos lentos no processo de integração. Não é, sequer ainda, uma união aduaneira.

- Vamos perder mercado. O máximo que o Brasil conseguiu de participação no comércio mundial até agora foi de 2%. A perspectiva é continuarmos com esse papel modesto. O que tem salvado nossa balança comercial são os altos preços das commodities - completou.

Técnicos do governo reconhecem, em uma avaliação preliminar, que a Aliança do Pacífico aposta na diversificação de suas relações comerciais para conter o avanço chinês na região. No entanto, o mesmo bloco quer se beneficiar da demanda dos países da Ásia por commodities agrícolas e minerais.

- A Aliança do Pacífico busca uma integração rápida, e os países-membros deixam isso bem claro - comentou uma fonte.