Título: Arquivos contestam versão da morte de Rubens Paiva
Autor: Costa, José Luiz; Comunello, Patrícia
Fonte: O Globo, 23/11/2012, País, p. 11

Comissão da Verdade receberá documentos que comprovam sequestro e tortura do ex-deputado pela ditadura.

Documentos que podem elucidar o paradeiro e a morte do ex-deputado federal Rubens Paiva e o atentado ao Riocentro, casos emblemáticos da ditadura militar brasileira, serão entregues à Comissão Nacional da Verdade, na próxima terça-feira, no Palácio Piratini, em Porto Alegre. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, quer transformar o gesto num ato histórico, confirmou ontem o chefe da Casa Civil, o secretário Carlos Pestana. A existência dos documentos foi revelada pelo jornal "Zero Hora". Eles comprovam que o ex-deputado foi sequestrado por militares e levado às dependências do Departamento de Operações e Informações - Centro de de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio, em 1971.

O promotor Otávio Bravo, do 1º Ofício da Procuradoria de Justiça Militar do Rio, que investiga o paradeiros de desaparecidos do regime militar, considera os documentos a primeira prova documental da entrada de Rubens Paiva naquela repartição, um conhecido centro de torturas. Trata-se de uma folha de ofício amarelada e preenchida em máquina de escrever, na qual o próprio Exército relata a prisão do ex-parlamentar.

Intitulado "Turma de Recebimento", o documento contém o nome completo do político (Rubens Beyrodt Paiva), de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISAer, Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de papéis, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Consta nele, também, uma assinatura, possivelmente de Paiva. Isso muda história oficial, já que o corpo do ex-deputado nunca foi localizado, e o Exército jamais admitiu responsabilidade sobre o sumiço do político cassado pela ditadura militar .

O documento ficou quatro décadas guardado no arquivo particular do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, morto no último dia 1º, possivelmente numa tentativa de assalto. Ele foi chefe do DOI-Codi do Rio, cerca de dez anos depois do desaparecimento. As filhas do militar entregaram os arquivos à polícia.

Bravo considera que foram praticados pelo menos quatro crimes, no sumiço de Paiva: tortura, sequestro, homicídio e ocultação de cadáver. Bravo pretende encaminhar seu procedimento investigatório para a Comissão Nacional da Verdade e também para o Ministério Público Federal, que tem competência para apresentar denúncia de crimes comuns à Justiça (sequestro e cárcere privado). Por atuar junto à Justiça Militar, Bravo só pode apresentar denúncias referente a crimes militares.