Título: Advogados de réus comemoram abraçados e recebem felicitações
Autor: Éboli, Evandro ; Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 16/10/2012, País, p. 4

Zilmar ligou para os dois em prantos; Dirceu cumprimentou Kakay

Evandro Éboli

Vinicius Sassine

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA Os advogados de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes se emocionaram no fim do julgamento ontem no STF e comemoraram a absolvição dos clientes. Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de Duda, e Luciano Feldens, de Zilmar, abraçaram-se, com os olhos marejados, e receberam telefonemas de felicitações.

Kakay recebeu uma mensagem até de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil e condenado por corrupção ativa, que o cumprimentou. Zilmar ligou para os dois e, nas palavras dos advogados, estava em prantos.

- Ele (Dirceu) disse que estava feliz - afirmou Kakay.

Os advogados disseram que a absolvição fez justiça a Duda e Zilmar, que, para eles, nem deveriam ter sido julgados no STF. Ex-procurador da República em Porto Alegre, onde atuou na Vara de Lavagem de Dinheiro por 12 anos, até 2008, Feldens disse que a denúncia do MP não continha provas:

- Em qualquer tribunal, seria rejeitada preliminarmente.

Kakay afirmou que o placar elástico (10 a 0 e 7 a 3 em duas acusações de lavagem, e 9 a 1 na de evasão) confirmou a argumentação da defesa pela inocência de Duda e Zilmar. Kakay disse que o veredicto recoloca os clientes na sociedade:

- É o fim de um martírio longo, desnecessário. Mas a vida é isso. É uma decisão que trará tranquilidade aos dois, que poderão conviver naturalmente com as pessoas. É um peso, essa pecha de mensaleiro.

A absolvição de Duda e Zilmar não elucida o destino do dinheiro depositado nas contas bancárias nas Bahamas. Para Feldens, a destinação não é questão posta no processo:

- Não existe essa dúvida no processo. Cabe ao MP mapear o caminho desse dinheiro.

A defesa de Duda e Zilmar evita falar sobre o assunto, mas considera que não houve uso inadequado dos recursos do valerioduto. Dos R$ 10,8 milhões, R$ 4,5 milhões teriam sido usados para pagar dívidas tributárias com a Receita. O restante teria ido para pagamento de fornecedores da agência de publicidade. O ministro Marco Aurélio, ao proferir seu voto, tocou no assunto:

- Talvez o dinheiro tenha retornado ao Brasil para pagamento de contratados da agência.

Quando foi ouvido oficialmente no processo do mensalão, em 2008, Duda afirmou que "os recursos depositados na conta Dusseldorf não voltaram ao Brasil". Laudos periciais comprovaram que o dinheiro saiu da conta, mas não precisaram sua destinação.