Título: Amorim de olho na Câmara
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 01/10/2009, Política, p. 3

Ministro de Lula troca o PMDB pelo PT, e petistas já apostam na candidatura pelo Rio

Amorim ligou para o presidente do PT, Ricardo Berzoini, para fazer uma consulta sobre a filiação partidária

Foi uma filiação relâmpago e conveniente para a eleição do ano que vem. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, decidiu trocar o PMDB pelo PT dentro do prazo permitido pela Justiça Eleitoral para manter aberta a possibilidade de ser candidato. Concorrer ao Senado ou à Câmara agradam ao chanceler, mas se depender dos petistas ele já tem uma vaga de candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro garantida.

O ato de filiação ocorreu na quarta-feira, um dia depois de Amorim ter uma rápida conversa com o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), sobre suas intenções. O dirigente petista acelerou a burocracia partidária (1)e indicou que ele assinasse a ficha de seu domicílio eleitoral em Teresópolis (RJ). ¿Ele me ligou e me consultou sobre o que deveria fazer para se filiar. Perguntei se ele tinha alguma pretensão de se candidatar, ele me disse que não, mas que não descarta a possibilidade¿, afirmou Berzoini.

O chanceler foi do PMDB pelas mãos do ex-deputado Ulisses Guimarães, mas nunca teve militância. Amorim começou a cogitar trocar de partido em 2006 quando participou de palanques na campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tomou gosto pela coisa, mas engavetou o projeto até esta semana, quando se encerra o prazo estipulado pela Justiça Eleitoral para se inscrever num partido e disputar a eleição. Como alimenta um desejo de passar pelo crivo das urnas, apressou-se e pediu a orientação a Berzoini.

¿Ele pode ter essa alternativa de se candidatar, como um cidadão qualquer, que faz parte do projeto defendido pelo presidente Lula¿, afirmou o presidente petista. Berzoini esquivou-se de dizer se os planos já estão traçados, mas outros dirigentes afirmaram que Amorim não teria dificuldade de conseguir apoio do partido para uma vaga à Câmara, já que este seria seu primeiro teste eleitoral. ¿O Senado seria algo mais arriscado¿, afirmou um parlamentar. Amorim, 67 anos, é obrigado a se aposentar de maneira compulsória quando completar 70. Paulista da cidade de Santos, ele fez carreira no Rio como diplomata. Como petista, ele torna-se o 17º ministro representante do partido na Esplanada.

Sonho

Assim como o ministro das Relações Exteriores, outras pessoas correram para encontrar um partido e manter aceso o sonho de ter o nome nas urnas. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), assinou a ficha de filiação do PSB, animado com o convite do deputado Márcio França, presidente estadual, para disputar o governo paulista.

Com Skaf, fica embolado o jogo por São Paulo e cria empecilhos para que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) transfira seu título e dispute o governo paulista, como gostaria o presidente Lula. Nesse cenário, ganha corpo a candidatura ao Planalto, dividindo a base aliada com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

No palco paulista, um acerto entre o PT e o PSB é cada vez mais difícil. Os petistas têm três nomes: o deputado Antônio Palocci, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e Emídio de Souza, prefeito de Osasco.

1 - Mandatos No ápice do troca-troca partidário, o DEM decidiu pedir na Justiça o mandato da deputada Nilmar Ruiz (TO), que saiu na semana passada. Até agora, os partidos têm sido condescendentes com as desfiliações. O PMDB é a legenda que mais perdeu deputados, e o PSC o que mais ganhou, mas não buscou a Justiça para manter seus mandatos.