Título: BC dos EUA e fundo europeu de socorro animam mercados globais
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 27/03/2012, Economia, p. 20

Bernanke diz que estímulo continuará até que mercado de trabalho melhore

NOVA YORK, RIO, BERLIM e PARIS. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, disse ontem que a atual política de flexibilização monetária dos EUA continuará até que o mercado de trabalho dê sinais concretos de recuperação. O sinal de que o excesso de liquidez e o baixo custo do dinheiro continuarão animou os mercados financeiros globais, influenciados também pela expectativa de ampliação do fundo europeu de resgate. Alguns analistas especulavam inclusive que novos alívios financeiros poderão ser aplicados nos EUA. Os três índices principais de Wall Street fecharam com altas acima de 1%.

O presidente do Fed disse que o recuo recente do índice de desemprego americano, que caiu de 9,1% desde o segundo semestre de 2011 para 8,3% em fevereiro, ficou "de certa forma sem sincronia" com o ritmo modesto de crescimento econômico. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) dos EUA cresceu 3% no quarto trimestre, mas espera-se que a economia tenha desacelerado para um pouco abaixo de 2% nos primeiros três meses deste ano. Esses sinais, segundo Bernanke, indicariam a necessidade de manter o estímulo monetário à economia.

- Mais melhorias significativas contra o desemprego provavelmente vão exigir uma expansão mais rápida da produção e da demanda dos consumidores e dos empresários, um processo que pode ser apoiado por contínuas políticas acomodativas - disse Bernanke em um encontro da Associação Nacional para Economia Empresarial. - Essa fraqueza continuada em demanda agregada é provavelmente o fator dominante. Consequentemente, as políticas monetárias acomodativas do Federal Reserve, de fornecer apoio para a demanda e para a recuperação, devem ajudar ao longo do tempo a reduzir o desemprego de longo prazo também.

Merkel admite elevar recursos de fundo europeu

As palavras de Bernanke estimularam as bolsas. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), subiu 1,32%, a 66.684 pontos. Além dos sinais de que o Fed não descarta novas medidas de estímulo, influíram a expectativa de ampliação dos recursos dos fundos de resgate da Europa. Já o dólar comercial subiu 0,33%, a R$ 1,816, com investidores ainda receosos em relação a novas ações do governo.

Nos EUA, o índice Dow Jones subiu 1,23%, enquanto as altas no S&P 500 e no Nasdaq ficaram em 1,39% e 1,78%, respectivamente. Com o desempenho de ontem, o S&P 500 se recuperou de sua pior semana este ano e voltou a operar ontem no maior patamar em quatro anos.

Na Europa, além de Bernanke, as sinalizações, dadas no fim de semana, de uma postura mais flexível por parte da Alemanha em relação às propostas para ampliar os fundos de resgate da zona do euro foram bem recebidas nas bolsas. Londres subiu 0,82%. Também avançaram Paris (0,74%) e Frankfurt (1,2%). A exceção ficou por conta da Bolsa de Madri, com recuo de 0,69%, por receios de contágio maior na crise das dívidas soberanas.

- Os títulos soberanos da Espanha têm perdido valor recentemente e uma ampliação dos fundos de resgate ajudaria a dar mais segurança em relação à situação espanhola e também de Portugal - explica o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse ontem que o país está disposto a permitir que os 200 bilhões já comprometidos pelo fundo de resgate temporário do bloco (o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Feef) possam ser usados em paralelo com os 500 bilhões de seu sucessor permanente, o Mecanismo de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês).

- Podemos imaginar que esses 200 bilhões poderiam ser usados paralelamente aos 500 bilhões do ESM até os países pagarem os empréstimos - disse Merkel numa conferência de seu Partido Democrata Cristão.

Já o Ministério do Trabalho francês anunciou que o número de desempregados na França aumentou 0,2% em fevereiro pelo décimo mês consecutivo para 6,2% no ano, o nível mais alto desde outubro de 1999.

(*) Com agências internacionais