Título: Após 17 dias, sai atestado de mortos na Antártica
Autor: Góes, Bruno
Fonte: O Globo, 15/03/2012, O País, p. 13

Documento é expedido depois de famílias criticarem demora para liberação de documentos para o enterro

O atestado de óbito dos dois militares mortos no incêndio que destruiu a base brasileira na Antártica, em 25 de fevereiro, foi expedido ontem. No mesmo dia, O GLOBO publicou reportagem mostrando a revolta dos familiares com os entraves que impediam o sepultamento do sargento da Marinha Roberto Lopes dos Santos, de 45 anos, e do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo, de 47 anos.

Com o documento, finalmente a família de Roberto conseguiu a liberação do corpo para o velório, marcado para hoje, a partir das 12h, na capela F do Cemitério do Caju - o enterro será logo depois, às 15h. Já o corpo de Carlos Alberto será transportado em voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com decolagem da Base Aérea do Galeão, às 9h, e chegada prevista para 13h em Vitória da Conquista, na Bahia.

Os familiares de Carlos Alberto passaram o dia em negociação com a Marinha. Inicialmente, para transportá-lo, os oficiais ofereceram um voo do Rio para Ilhéus, com conexão em Salvador. De Ilhéus, o corpo seria levado por terra em um carro oficial, chegando a Vitória da Conquista, onde será enterrado. Mas a família queria um voo direto para a cidade do funeral. Vitor Figueiredo, filho mais novo do suboficial, estava angustiado, mas previa um desfecho positivo.

- Amanhã deve ser tudo resolvido. Haverá um cortejo pela cidade em um carro do Corpo de Bombeiros, e o enterro será no Parque das Cidades. Só estamos esperando a Marinha ver se a Aeronáutica vai disponibilizar um avião para vir direto para cá - disse ele, antes da decisão das Forças Armadas pelo voo direto para Vitória da Conquista.

Os corpos de Roberto e de Carlos Alberto chegaram em 28 de fevereiro à Base Aérea do Galeão, vindos de Punta Arenas, no Chile, e só foram liberados pelo Instituto Médico-Legal (IML) do Rio na última sexta-feira, após a realização de exames de DNA. Desde então, as famílias enfrentavam a burocracia para conseguir marcar o enterro.

- Já estávamos muito ansiosos com essa indefinição. A Marinha nos ajudou muito, mas a burocracia é muito grande. Poderíamos até fazer o enterro hoje (ontem), mas preferimos deixar para amanhã (hoje) para avisar a todo mundo que deseja prestar uma última homenagem ao Roberto - disse Irineu dos Santos, irmão de Roberto.

Na tarde de ontem, a Marinha divulgou nota afirmando que "todos os esforços estão sendo conduzidos no cumprimento dos trâmites burocráticos legais, visando à liberação e o sepultamento dos corpos".

Os militares faziam parte do grupo da Marinha que prestava apoio aos pesquisadores na Antártica. Eles serviam às Forças Armadas há 30 anos. Roberto Santos deixou mulher e dois filhos. Era a terceira e última missão dele na Antártica. Sua volta para o Brasil estava prevista para novembro, pois ele iria se aposentar no início do ano que vem.

A partir do dia 27 de março, Carlos Alberto pretendia voltar ao país. Ele também tinha a intenção de se aposentar em breve.