Título: Ao demitir, Mantega mirou ambição de Toledo
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Fonte: O Globo, 03/03/2012, Economia, p. 31

BRASÍLIA — Alçado ao centro da crise que envolve a cúpula do Banco do Brasil (BB), devido às evidências de quebra do seu sigilo bancário, o ex-vice-presidente Allan Toledo trabalhava nos bastidores do governo para assumir a presidência da instituição, propósito que chegou aos ouvidos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, por meio de um empresário. Indignado com a pretensão do dirigente, Mantega decidiu demiti-lo em dezembro.

No começo daquele mês, um empresário que tem negócios com o BB foi recebido pelo ministro Mantega e, durante a conversa, contou que pretendia convidar Toledo para trabalhar em sua empresa, mas desistira ao ser informado pelo próprio vice-presidente que ele seria o próximo presidente da instituição.

Mantega ficou irado com a informação, já que não planejava a troca na diretoria. Sentindo-se traído, determinou ao secretário-executivo e presidente do conselho do Banco do Brasil, Nelson Barbosa, a demissão sumária de Allan Toledo, por quebra de confiança. O atual presidente da instituição, Aldemir Bendine, aproveitou para fazer uma mudança maior na diretoria e com o aval da Fazenda trocou 11 pessoas, para cercar-se de pessoas da sua confiança. Alguns dirigentes foram aposentados até contra a vontade.

— A ordem que deram para o Dida (Bendine) era blindar o banco. Foi o que ele fez. Só que agora está pagando por isso — disse uma fonte.

A guerra entre correntes na cúpula do BB começou há mais tempo. Segundo fontes, havia um acordo entre Bendine e seu então vice-presidente, Ricardo Flores, que hoje preside a Previ, o fundo de pensão do BB. Eles teriam feito um pacto para uma programada dança das cadeiras. Bendine iria para a presidência da Previ e faria de Flores seu sucessor na presidência do BB. Mas o vice começou a brilhar demais e roubou a cena em 2009, quando foi responsável pelo desenho de medidas demandadas pelo governo para minimizar o impacto da crise financeira global no país. Na época, Ricardo Flores ganhou poder e acabou na presidência da Previ: cargo desejado pelo antigo chefe.

Restou a Bendine manter-se na presidência do BB já que o comando da Vale, também desejado por ele, foi dado a outro.

Segundo fontes, os ânimos continuam acirrados, embora a ordem explícita da presidente Dilma e do ministro Mantega seja para que a guerra acabe. Há expectativa de novas denúncias contra os dirigentes.

— A instituição Banco do Brasil é muito grande e quando placas tectônicas se movem, o resultado é um terremoto — diz uma fonte.