Título: Diretor do Depen elogiou suspeito
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 15/01/2012, O País, p. 16

Carta foi enviada à PF depois das denúncias e da saída de Cabanas

BRASÍLIA. Mesmo ciente das denúncias de irregularidades nos presídios federais de Catanduvas (PR), e de Campo Grande, o diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Augusto Rossini, tentou proteger o ex-diretor de Políticas Penitenciárias Alexandre Cabanas. Em 12 de dezembro, Rossini enviou ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, um ofício em que tece elogios ao ex-auxiliar. O ex-diretor de Políticas Penitenciárias é um dos principais investigados em processo sobre a compra das plataformas de inteligência dos presídios de Catanduvas e de Campo Grande.

A suspeita é que câmeras e microfones usados para o sistema de vigilância dos dois presídios mais importantes do país são de origem duvidosa e teriam sido contrabandeadas do Paraguai. Relatório da Seção de Execução Penal informa que das 210 câmeras de Catanduvas, apenas 93 estão funcionando, conforme revelou O GLOBO na edição de sexta-feira. Em Catanduvas e Campo Grande, estão os bandidos mais perigosos do país, muitos deles chefes de facções do crime organizado do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Cabanas deixou a diretoria de Políticas Penitenciárias em 9 dezembro, logo depois que as denúncias de irregularidades em Catanduvas e Campo Grande foram levadas ao gabinete do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Três dias depois, Rossini escreveu um ofício ao diretor da PF com rasgados elogios ao ex-braço direito. Cabanas é agente da PF e, após a saída do Depen, teve que retornar à polícia. "Com os nossos cordiais cumprimentos, servimo-nos para os fins de consignar, nos termos do artigo 440 e 443 do decreto 59.310/66, elogio ao servidor Alexandre Cabana de Queiroz Andrade", disse o diretor do Depen.

No texto, Rossini diz que fazia o elogio "em razão da relevância e importância dos serviços prestados, com extraordinário empenho e irretocável dedicação pelo servidor no período em que esteve no Departamento". No período em que esteve no Depen, Cabana foi coordenador de Informação e Inteligência, coordenador-Geral de Análise de Informação e diretor de Políticas Penitenciárias. Logo depois de retornar à PF, Cabanas foi destacado para uma "missão" no Rio de Janeiro, com diárias pagas pelos cofres públicos.

Segundo a assessoria de imprensa da PF, Cabanas estava sem função definida e foi recrutado para um trabalho temporário para suprir deficiências no Rio de Janeiro. Outros policiais teriam sido requisitados para o mesmo trabalho. A polícia não informou, no entanto, onde Cabanas estaria trabalhando. A ordem para a abertura de processo sobre irregularidades na compra de câmeras e microfones nos presídios de Catanduvas e de Campo Grande partiu do ministro José Eduardo Cardozo. Cabanas coordenou a compra dos equipamentos.

Contrato ainda recebeu aditivo

Uma comissão especial, que tem entre seus integrantes um delegado e um agente penitenciário federal, deverá apurar denúncias de que às câmeras teriam sido compradas por R$600 mil no Paraguai. Há a suspeita ainda de que a empresa Vigilância e Segurança Patrimonial, contratada para instalar a plataforma de inteligência, apresentou atestado de capacidade técnica falso. O Depen teria comprado ainda mais câmeras que o necessário. Como se não bastassem estes problemas, o departamento ainda fez um aditivo de mais de R$700 mil ao valor inicial do contrato. (Jailton de Carvalho)