Título: Grilagem é investigada desde o ano do mensalão
Autor:
Fonte: O Globo, 03/12/2011, O País, p. 10
Fazendas que Valério dizia ter na Bahia eram fictícias
SALVADOR. O delegado responsável pelas investigações da Operação Terra do Nunca, que resultou na prisão de Marcos Valério e de outros 14 suspeitos em Minas, na Bahia e em São Paulo, afirma que o esquema de "grilagem de terras" e "aquisição de papéis públicos" ocorre desde 2000 na cidade de São Desidério, região oeste da Bahia.
- Os cartórios vendiam a escritura pública, adulteravam os documentos, criavam áreas ou mudavam localizações, tamanhos - explicou o coordenador da operação, o delegado baiano Carlos Ferro.
Segundo o delegado, os envolvidos devem responder por falsificação de documentos, falsidade ideológica, corrupção passiva, corrupção ativa e formação de quadrilha.
Carlos Ferro contou que a polícia passou a apurar o esquema em 2005, a partir de reportagens sobre o caso, e que ele contava com a ajuda de intermediários e funcionários de cartórios. Das dez propriedades que Valério dizia possuir no oeste baiano, descobriu-se que pelo menos as fazendas Bom Jesus I e II e Barra I eram propriedades fictícias.
Na investigação de 2005, a polícia descobriu que foi graças a assinaturas obtidas do casal de agricultores Laurita Maria da Conceição Araújo, de 72 anos, e Aristote Gomes de Araújo que o intermediário José Roberto Paixão - um dos representantes de Marcos Valério em São Desidério - "produziu" procurações representando os dois, fez escrituras de posse das fazendas fictícias e as vendeu para a DNA Propaganda Ltda., pertencente a Valério, em 26 de setembro de 2000.
A Fazenda Bom Jesus I teria 3.510 hectares e a Bom Jesus II, 3.507 hectares, o que certamente propiciaria uma situação bem melhor do que vivia a família de agricultores num casebre minúsculo na periferia de São Desidério. Usada como "laranja" de dois latifúndios, Laurita disse que recebeu do "procurador" Paixão menos de R$500 por uma "roçazinha" sem valor.
Os documentos de venda das supostas propriedades do casal indicam que as terras constantes no documento registrado pertenceriam à Fazenda Barra. As propriedades foram rebatizadas com os nomes de Bom Jesus e cada uma delas foi negociada por R$100 mil. As fazendas foram passadas para a DNA no cartório de São Desidério, no livro 2 do registro geral sob o número R-1-2735, em 24 de janeiro de 2002. Os representantes legais da DNA citados na escritura de venda são Marcos Valério Fernandes e Daniel da Silva Freitas.
Com Agência A Tarde
Os presos na investigação
Minas Gerais
Marcos Valério Fernandes de Souza ? acusado de ser operador do mensalão
Ramon Hollerbach ? ex-sócio de Marcos Valério na agência DNA
Francisco Marcos Castilho Santos ? ex-sócio de Valério na DNA
Margaretti Maria de Queiroz Freitas ? ex-sócia de Valério na DNA
São Paulo
Marcus Vinicius Rodrigues de Martins ? empresário
Barreiras (Bahia)
Leonardo Monteiro Leite ? advogado
Ana Elizabete Vieira Santos ? ex-tabeliã (mãe do piloto de teste de Fórmula 1, Luiz Razia)
Nadir de Oliveira Tavares Botelho ? serventuária da Justiça
Nilton Santos de Almeida ? empresário e advogado
Adroaldo Moreira da Costa ? agricultor
Raimundo Varques Gonçalves Lima ? empresário
Adilson Francisco de Jesus
Gilkison Botelho dos Anjos, - Conhecido como Chiquinho
João Onivaldo Faccio
Ronaldo da Silva Schitine