Título: CPI do Ecad ouve motorista laranja
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 12/08/2011, O País, p. 12

Presidente da comissão diz não ter dúvida de desvio de verba de direito autoral

BRASÍLIA. O presidente e o relator da CPI do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Lindbergh Farias (PT-RJ), disseram ontem não ter dúvidas de que houve fraude para desviar recursos de direitos autorais do órgão. A CPI ouviu ontem o motorista Milton Coitinho, suposto laranja de um esquema de recebimento de direitos autorais. Em nome dele, Bárbara de Mello teria sido contratada pela União Brasileira de Compositores (UBC) para receber R$83 mil devidos ao suposto artista Coitinho.

O motorista afirmou que só soube do caso ao ser procurado pelo GLOBO em abril. Ele disse nada entender de música nem saber tocar um instrumento musical. No esquema montado, Coitinho seria um músico famoso que morava em Las Vegas e que precisava de alguém para receber o dinheiro no Brasil.

- Alguém usou meu nome e CPF para me envolver neste caso. Nunca tinha saído do Rio Grande do Sul - disse o motorista Coitinho.

A UBC é uma das nove associações filiadas ao Ecad, empresa sem fins lucrativos que arrecada e distribui recursos de direitos autorais musicais.

Bárbara, que é estagiária de Direito, também depôs. Explicou que recebeu 10% do dinheiro a que Coitinho tinha direito e que negociou com alguém que se passava por Coitinho e com funcionários da UBC. Ela entregou à CPI cópia de e-mails que comprovariam que a fraude foi gestada pela UBC e que ela teria sido instrumento do negócio.

Quem a indicou para ser procuradora de Coitinho foi seu cunhado, Rafael Barbor, que trabalha na UBC. Para o presidente da CPI, ficou claro que o motorista foi vítima de uma fraude e que Bárbara participou do esquema. Ele disse ser difícil crer que os altos dirigentes da UBC não soubessem do que ocorria:

- Tem aqui claramente uma fraude e uma vítima. Também ficou claro que a dona Bárbara está envolvida, e que o Ecad não só é uma caixa-preta, como foi o local onde houve uma monstruosa fraude - disse Randolfe.

A CPI avalia se faz uma acareação entre a presidente da UBC, Marisa Gandelman, e Bárbara. Segundo Lindbergh, Marisa culpou Bárbara e seu cunhado. Bárbara disse que a UBC participou de tudo.