Título: Entidades dizem que MEC aprovou o material
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 27/05/2011, O País, p. 11

Para a ABGLT, uma das ONGs que participaram da elaboração do kit contra homofobia, Dilma foi induzida a erro

Adauri Antunes Barbosa e Marcus Vinícius Gomes*

SÃO PAULO E CURITIBA. Duas das três organizações não-governamentais (ONGs) que participaram da elaboração do kit contra a homofobia consideraram ontem lamentável a suspensão determinada pela presidente Dilma Rousseff. De acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT) e a Ecos Comunicação em Sexualidade, todo o conteúdo do kit foi discutido e aprovado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do Ministério da Educação (MEC).

O presidente da ABGLT, Toni Reis, considera lamentável a decisão de Dilma Rousseff, que teria sido induzida a erro por líderes evangélicos ao examinar um kit que não corresponde ao aprovado pelo Ministério da Educação. Reis acusou setores parlamentares e religiosos de substituírem as peças do kit, levando a presidente a crer que o material conteria cenas de sexo anal e oral, além de beijos lascivos nas peças audiovisuais.

- No material que tivemos acesso havia até a logomarca do governo. Ora, não há ainda nenhum material impresso. O que Dilma viu foi um engodo - afirmou, lembrando que o material nem chegou a ser produzido.

A socióloga Sylvia Cavasin, uma das coordenadoras da Ecos, considerou lamentável o veto da presidente ao trabalho:

- Foi um tremendo baque ver a utilização do material como moeda de troca política. É lamentável essa forma de se fazer política no Brasil. E esse nosso material foi a bola da vez. Um jeito de fazer política que compromete um material educativo, com foco nos direitos humanos. Isso tudo é lamentável.

A coordenadora afirmou que não sabe qual foi o material mostrado a Dilma pelos evangélicos, por isso não comentaria a possibilidade de a presidente ter sido enganada. Sylvia lembrou, no entanto, que a elaboração do trabalho vinha sendo feita por meio de uma intensa troca de informações com técnicos e pedagogos do MEC/Secad.

- Não se fala nada, não se faz nada, não se decide nada sem falar, ver, conhecer. Tudo tem de ser adequado ao público do ensino médio. Até o beijo, que foi pensado, foi tirado depois de ser conversado - contou.

Entidades têm reunião em Brasília na terça-feira

Na próxima terça-feira o presidente da ABGLT terá encontro com representantes do MEC e da Secretaria de Direitos Humanos, em Brasília, para discutir o projeto. Toni Reis disse que espera convencer o representante da presidente da República de que o kit apresentado a ela por membros do Fórum Nacional Evangélico de Ação Social e Política, teria sido produzido para um outro público, não escolar, de usuários de drogas e prostitutas na prevenção à Aids e não para combater a homofobia.

- O que nós queremos é dar um basta à violência e à discriminação contra os homossexuais - disse Toni Reis.

*Especial para O Globo