Título: A cidade de cinema
Autor: Leitão, Sérgio
Fonte: O Globo, 17/04/2011, Opinião, p. 7

Se o Rio de Janeiro deseja de fato se consolidar como um polo internacional de cinema e audiovisual, tem de aprender a lidar com todos os tipos de filmes, não apenas com os que enaltecem a cidade, como ¿Rio¿ e ¿A saga crepúsculo: amanhecer¿.

O modo como a cidade aparece em ¿Velozes e furiosos 5¿ não é, no geral, positivo. Exatamente como ocorreu com Tóquio no filme anterior da franquia. Ou como ocorreu com Nova York e Londres em centenas de filmes que mostram aspectos não glamourosos dessas metrópoles.

Não podemos subestimar a inteligência e a maturidade do público. Ninguém deixou de ir a Nova York depois de ver ¿Taxi Driver¿. Ninguém achou, a partir do clássico de Martin Scorcese, que em Nova York só há psicopatas, sujeira, violência, sordidez e corrupção. O cinema, afinal, costuma ser um mergulho num microcosmo ficcional. E o público sabe disso.

A vinda de grandes produções de cinema para o Rio é importante, em primeiro lugar, pelo impacto na geração de renda e emprego e na atração de investimentos. ¿Velozes e furiosos 5¿ representou a entrada de US$2 milhões na economia carioca e a geração de 400 empregos. No caso de ¿Amanhecer¿, foram US$3,5 milhões e 500 empregos.

Isso é extremamente positivo para a indústria cinematográfica local e os serviços indiretos, como transporte, catering etc. Outro elemento relevante é a realização de premières mundiais, como as de ¿Rio¿ e ¿Velozes e furiosos 5¿, que atraem para a cidade a imprensa mundial e os protagonistas. Ter Anne Hathaway e Vin Diesel elogiando o Rio para as redes de TV de todo o planeta é algo que não tem preço.

Quando o filme estrangeiro, além de gerar emprego e renda e de representar a atração de investimentos para a cidade, também a promove, então temos algo duplamente positivo. Mas nem sempre é (e será) assim.

No caso de filmes que também são positivos para a imagem da cidade, e que podem alcançar grande repercussão, a prefeitura costuma avaliar a possibilidade de um apoio intensivo e de um investimento financeiro direto ou indireto, além do apoio via Rio Film Commission. Foi o que ocorreu nos casos de ¿Amanhecer¿ e de ¿Rio¿. Trata-se do tipo de filme que queremos e procuramos atrair prioritariamente.

Nos demais casos, a prefeitura e o governo do estado fornecem informações e apoio logístico por meio da Rio Film Commission, criada para tornar o Rio uma cidade e um estado capazes de receber adequadamente filmagens estrangeiras (e também nacionais).

O Rio é atualmente o líder nacional em produções estrangeiras. Em 2010, abrigou 92, considerando cinema, TV e publicidade. Ou 51,4% do total de filmagens internacionais realizadas no Brasil (179). Grande parte dos produtos será positiva para a imagem da cidade.

O Rio também é o líder em produções nacionais. Nada menos do que 40% dos filmes brasileiros lançados no ano passado foram produzidos por empresas sediadas na cidade. Trinta produções, para um total de 75 filmes nacionais. Os filmes cariocas conquistaram cerca de 95% do público e da renda totais do cinema nacional (25 milhões de espectadores e R$222 milhões, respectivamente).

A prefeitura tem feito um investimento pesado para fortalecer a indústria audiovisual carioca. Em 2010, a RioFilme realizou um investimento recorde de R$18,5 milhões. Dos 7 filmes investidos pela RioFilme lançados em 2010, seis estão entre os 20 filmes brasileiros mais vistos no ano.

A Rio Film Commission atendeu mais de 90 produções nacionais e internacionais em 2010, sempre da mesma forma, facilitando as filmagens, reduzindo seu impacto sobre a rotina dos cariocas e fluminenses e potencializando seus resultados. Com isso, ajudou a atrair investimentos e a gerar renda e emprego aqui.

A RioFilme acaba de lançar uma campanha para impulsionar a atração de filmagens estrangeiras e valorizar a cidade como um polo internacional de cinema e audiovisual. O slogan é autoexplicativo: ¿Rio. Uma cidade de cinema.¿

O Rio entrou definitivamente no circuito do cinema internacional. Haverá cada vez mais filmagens e premières na cidade. De produtos nacionais e estrangeiras. Temos de reconhecer e valorizar os benefícios econômicos e sociais gerados, mesmo quando não há ganho aparente de imagem. O Rio e os cariocas ganham muito com isso.

SÉRGIO SÁ LEITÃO é presidente da RioFilme.