Título: Após ordem de silêncio, general fica à vontade entre comando do Exército
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 02/04/2011, O País, p. 9

Com direito a risadas e uísque, Heleno conversou animadamente com Jobim e Peri

BRASÍLIA. O clima de constrangimento era zero. Um dia após levar um cala-boca do Comando do Exército e suspender a palestra "A contrarrevolução que salvou o Brasil", sobre o 31 de março, o general Augusto Heleno estava muito à vontade ao lado de quem ordenou o seu silêncio, o comandante do Exército, general Enzo Peri, e do ministro da Defesa, Nelson Jobim. O encontro festivo ocorreu ontem de manhã após uma cerimônia militar, no 4º andar do Quartel-General.

Heleno, Peri e Jobim conversaram animadamente, descontraídos, e riram várias vezes. A conversa durou mais de uma hora, com direito a uísque servido pelo cerimonial e poses para fotos com parentes de militares presentes ao evento.

Popular entre os oficiais, o general Heleno circulava bem à vontade pelo salão. Em conversa com O GLOBO, o militar se mostrou resignado por não ter feito seu discurso. Mas fez questão de enfatizar que todo ano sempre o fez. Sem citar nomes, sugeriu que a proibição de se manifestar no dia em que se comemora o golpe militar partiu da presidente Dilma Rousseff.

- Sempre fiz (discurso nesta data). E nunca houve isso (proibição). Órdi é órdi (ordem é ordem) - brincou Heleno.

Perguntado sobre de quem partiu a determinação para não falar, respondeu:

- Você não vai arrancar isso de mim. É trabalho para vocês, que analisam cenários e tal - afirmou.

A palestra do general estava marcada para anteontem, mas foi suspensa quarta-feira, após determinação de Peri.

- Mesmo se a suspensão fosse a poucos minutos da palestra, eu a suspenderia. Estou tranquilo. Vida que segue - disse Heleno, ontem.

No discurso que fez em 2010, no Quartel-General, Heleno reverenciou os militares que atuaram contra militantes de esquerda e, segundo ele, ajudaram a impedir que o país seguisse o exemplo de Cuba, Coreia do Norte, Albânia e União Soviética. Disse que, fora do contexto, é fácil falar sobre abusos na luta contra a subversão e que, entre os que condenam os militares, há muitos ex-guerrilheiros que ocupam altos postos da República.

Heleno está na reserva, mas continua à frente do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. Ele deixará o cargo em maio. A solenidade de ontem foi de transmissão de cargos dos novos chefe de Gabinete do Comando do Exército, general Mauro César Cid, e do general Edson Leal Pujol, novo chefe do Centro de Informações do Exército (CIE).