Título: Bolsas perdem US$1 tri
Autor: Carneiro , Lucianne
Fonte: O Globo, 16/03/2011, Economia, p. 21

Atragédia que abala o Japão desde sexta-feira já levou a uma perda de US$1 trilhão no valor de mercado dos índices das principais bolsas dos Estados Unidos, da América Latina, da Europa e da Ásia. O montante é quase o mesmo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa, com US$1,042 trilhão). Ontem, a soma do valor das ações das empresas que compõem esses índices mundiais era de US$36,103 trilhões, frente aos US$37,104 trilhões registrados na quinta-feira, antes do abalo no país asiático, segundo levantamento feito com base em dados da Bloomberg.

O agravamento da crise nuclear no Japão teve um efeito devastador nos mercados ontem. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, encerrou em queda de 10,55%, a maior desde outubro de 2008, tendo chegado a despencar 14% durante o pregão. As principais bolsas do mundo fecharam em baixa, e a cotação do petróleo recuou mais de 4%. Na abertura do mercado hoje, o Nikkei avançava 5,4%.

No Brasil, o Ibovespa, principal referência do mercado, chegou a cair 2,53% durante a manhã, sob o impacto das notícias do Japão, mas acabou fechando em queda de 0,24%, aos 67.005 pontos, influenciado pela melhora do mercado americano. A maior alta do índice foi a ação da Fibria, de 5,46%, a R$24,15, na expectativa de que o processo de reconstrução do Japão impulsione a demanda por celulose.

- Está ocorrendo uma repatriação de recursos de outros países para o Japão. Investidores, empresas e seguradoras estão retirando recursos de países onde estão seus investimentos e levando de volta para o Japão - afirma a economista da Lerosa Investimentos Alexandra Almawi.

Famílias japonesas investem no exterior

A valorização do iene desde o terremoto, segundo ela, já reflete este processo porque sinaliza a entrada forte de recursos no país.

Na avaliação do diretor-executivo do HSBC Global Asset Management, Pedro Bastos, deve haver repatriação de recursos de japoneses que estavam em mercados internacionais, mas ele acredita que ainda é cedo para avaliar se isso ocorrerá com força.

O HSBC tem hoje um patrimônio de US$2 bilhões em fundos de ações com papéis de empresas brasileiras no mercado japonês e de US$3,4 bilhões em fundos de renda fixa. No caso desses fundos, não houve mudança no padrão de resgate das aplicações desde o terremoto. Bastos não acredita que isso ocorra, diante da forte pulverização no varejo e do interesse dos japoneses por dividendos:

- As famílias japonesas tendem a diversificar seus investimentos fora do país. O sucesso dos fundos brasileiros pode ser explicado pelo enorme diferencial de juros, uma população envelhecida que busca aplicações com dividendos e a proximidade cultural pela imigração japonesa.

A Bolsa de Seul caiu 2,4%. Xangai recuou 1,41%, Hong Kong, 2,86%, e Taiwan, 3,35%. Na Europa, a maior queda foi em Frankfurt: 3,19%. Londres caiu 1,38%, e Paris, 2,51%.

Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 1,15%, e a Nasdaq, 1,25%. A aversão por risco fez os investidores buscarem títulos do Tesouro americano, cujo rendimento (inversamente proporcional a sua procura) recuou de 3,349% para 3,304%, no papel de dez anos. A queda não foi maior porque o BC americano divulgou nota otimista sobre a economia dos EUA.

O Tesouro americano informou ontem que, em janeiro, o Japão aumentou seu estoque dos papéis pelo oitavo mês consecutivo, para US$885,9 bilhões. Mas o mercado estima que o segundo maior detentor dos títulos (só perde para a China) deve vendê-los nos próximos meses para financiar a reconstrução do país.

O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, no entanto, disse não acreditar nessa hipótese:

- Não acredito. O Japão é um país muito rico, com uma elevada taxa de poupança e a capacidade de lidar tanto com o desafio humanitário como com o desafio da reconstrução.

(*) Com agências internacionais

EMPRESAS BRASILEIRAS DEVEM ADIAR CAPTAÇÕES, na página 22