Título: Eletricidade é o futuro
Autor: Chipp, Hermes ; Atienza, Luis
Fonte: O Globo, 07/02/2011, Opinião, p. 7

Hoje, o suprimento de energia contínuo, econômico e seguro não é apenas um resultado esperado da atuação dos operadores de sistemas elétricos, mas uma exigência de sociedades cada vez mais dependentes da eletricidade - dada a sua grande versatilidade de uso - e mais acostumadas ao alto padrão de qualidade de um serviço de fácil acesso. Além disso, a eletricidade tornou-se elemento-chave para um modelo energético sustentável no século XXI. Produzir energia limpa utilizando tecnologias livres de carbono, como a energia nuclear e as fontes renováveis - hidráulicas, eólicas e biomassa -, é hoje o grande desafio em escala mundial.

A experiência de participação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no Very Large Power Grid Operators, associação formada pelos operadores dos treze maiores sistemas elétricos do mundo, mostrou a convergência das preocupações de seus membros em relação aos principais desafios que deverão ser encarados nas próximas décadas para garantir a segurança do suprimento e enfrentar as mudanças climáticas globais.

Em todos os países, será preciso adaptar os sistemas elétricos a certas características das energias renováveis, como sua dispersão geográfica, sua distância em relação aos centros de consumo e sua contribuição variável em função das condições climáticas. É certo que o Brasil, com uma participação de mais de 87% de fontes de energia limpa na matriz de produção, está em uma posição privilegiada em comparação com outros países, mas há desafios em relação à necessidade de maior capacidade de armazenamento e à inserção das eólicas, da biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas.

Investimentos no sistema de transmissão serão cada vez mais relevantes. Uma rede elétrica de grande capacidade, integrada em nível internacional, deverá coexistir com redes nacionais mais robustas e flexíveis, capazes de gerenciar e equilibrar fluxos de energia significativamente variáveis, uma vez que os pontos de geração e consumo irão depender das condições climáticas.

A demanda de energia terá papel mais ativo nessa equação, com os consumidores respondendo aos sinais de preço resultantes da disponibilidade da oferta de energia. Para compensar o menor grau de previsibilidade e flexibilidade das tecnologias renováveis, será preciso incorporar mais inteligência e mais informatização em nossas redes, para permitir o gerenciamento do lado da demanda e o controle da crescente capacidade de produção embutida nos sistemas de distribuição.

Os veículos elétricos podem tornar-se uma importante solução para a substituição de combustíveis fósseis, melhoria da qualidade do ar e redução do ruído nas cidades. Mas, para que eles contribuam para um sistema elétrico mais eficiente, é importante desenvolver mecanismos de gerenciamento que forneçam incentivos para que os consumidores façam sua recarga fora dos horários de ponta de consumo de energia elétrica, utilizando superávits de capacidade da geração e da transmissão.

Há hoje no âmbito dos operadores dos treze maiores sistemas elétricos do mundo um consenso e uma grande disposição para fazer da eletricidade o eixo de um modelo energético mais sustentável, que contribua para o desenvolvimento e o bem-estar de nossas sociedades e das gerações futuras. A integração de energias renováveis de forma segura, a realização de investimentos para a interligação das redes de transmissão nacionais e internacionais, o reforço da capacidade de armazenamento e o aprimoramento tecnológico do monitoramento de nossas redes mantendo a vigilância sobre a segurança cibernética são apenas algumas das tarefas que teremos pela frente.

HERMES CHIPP é diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS). LUIS ATIENZA é presidente do Very Large Power Grid Operators.