Título: Ajuste fiscal indicará patamar da Selic
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 21/01/2011, Economia, p. 20

O ajuste fiscal prometido pelo governo é que vai definir até que patamar o Banco Central precisará elevar a Selic para recolocar a inflação de volta ao centro da meta. Há certo consenso entre os economistas de que os juros terão de subir mais, quanto menos rigoroso for o corte de gastos a ser anunciado pelo Ministério da Fazenda no próximo mês. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, um ajuste de R$40 bilhões nos gastos permitiria que a Selic não superasse os 12,75% ao ano. Anteontem, o BC elevou a taxa para 11,25% ao ano.

- O problema é que não acreditamos que ocorra nenhum ajuste fiscal - diz Vale. - Como não estamos em crise, como em 2003, acham que não precisam fazer nada na área fiscal. A conta virá na forma de inflação perigosamente acima da meta.

Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, calcula que, para a Selic fechar o ano em 12,25%, com mais duas rodadas de alta de meio ponto percentual na taxa, o governo terá de conseguir um superávit fiscal primário de 2,6% do PIB, sem os malabarismos de 2010. Isso significaria um aumento de 0,90 ponto percentual sobre o primário de 1,8% do PIB efetivamente alcançado ano passado. Caso o governo repita o superávit de 2010, estima, a Selic terá de ser elevada em mais um ponto percentual a 13,25%.

Ações de bancos caem com temor de aperto ao crédito

As declarações do presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, de que o crédito na instituição vai avançar menos este ano e o comunicado do BC após sua decisão de subir os juros anteontem derrubaram as ações dos grandes bancos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem. Teme-se que, a exemplo do BB, outros bancos possam rever suas projeções de crescimento e que o governo adote novas medidas de contenção do crédito.

- Mais do que o aumento dos juros, que era esperado, o mercado ficou desconfiado do trecho do comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) que fala em "ações macroprudenciais". Ficou a atender que novas medidas sobre bancos podem ser tomadas - explicou Rosângela Ribeiro, da SLW Corretora.

As units (certificados de ações) do Santander foram as que mais sofreram, caindo 3%. Também tiveram perdas os papéis preferenciais (PN, sem voto) do Itaú Unibanco, que recuaram 2,53%, e do Bradesco, com queda de 1,79%. As ações ordinárias (ON, com voto) do BB caíram 0,68%.