Título: Após vitória de Dilma, Bolsa sobe e juros caem
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 02/11/2010, Economia, p. 27

Rumor sobre Palocci na equipe e menção a corte de gastos animam mercado

RIO e BRASÍLIA

O primeiro pregão do mercado financeiro após a vitória da candidata do PT Dilma Rousseff na corrida presidencial foi marcado por alta na Bolsa, recuperação do dólar e recuo dos juros no mercado futuro. Os analistas tiveram dificuldade, no entanto, para apontar a contribuição das eleições em um dia marcado por dados positivos da atividade econômica chinesa, que puxaram ganhos pelo mundo. Mas afirmaram que a vitória de Dilma foi bem recebida no mercado, em meio a rumores de que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci cuja gestão à frente do ministério, no primeiro governo Lula, era bem vista no mercado teria um papel importante na nova administração.

Porém, nos bastidores, não há qualquer indicação política de que isto acontecerá. Além disso, ao mencionar que faria um corte de gastos em seu primeiro discurso após eleita, Dilma agradou aos investidores.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 1,26% e o dólar teve leve alta, de 0,29%, para R$ 1,708. Mas os efeitos mais visíveis da eleição foram no mercado de juros futuros.

Na noite de domingo, a presidente eleita se comprometeu a não deixar o governo gastar mais do que arrecada.

A declaração pesou nos contratos com vencimento longos janeiro de 2013, de 2015 e de 2017 , que voltaram a recuar na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Os juros recuaram 0,07 ponto percentual nos contratos com vencimento em janeiro de 2013 (11,64%).

Uma melhora nas contas pode permitir juros menores. Foi isso o que o mercado ouviu. Mas também pesou a presença de Palocci ao lado dela no discurso. O mercado gosta do Palocci, que é conhecido por uma visão fiscal mais controlada disse Luiz Eduardo Portella, sócio do Banco Modal.

Ontem, o mercado especulou sobre Palocci na Casa Civil, no Ministério da Saúde ou mesmo na Petrobras.

Já Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC), poderia assumir o Ministério de Minas e Energia (MME) ou um cargo na Petrobras, segundo os rumores.

No câmbio, BC reduz intervenção

Em relatório, o banco HSBC chegou a prever um rali termo do mercado para longo período de ganhos financeiros com uma possível nomeação de Palocci para a Casa Civil. Para o banco, o cenário seria mais moderado se outro fosse indicado para a pasta, como o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.

Segundo analistas, a definição do presidente da República pode ter tido influência positiva na alta de 1,26% ontem no Ibovespa, índice de referência da Bolsa, para 71.560 pontos.

Mas o crescimento do Índice de Gerentes da China, que mede a atividade manufatureira no país e subiu de 53,8 em setembro para 54,7 em outubro, foi o principal fator da alta.

O mercado gosta do Palocci e isso pode ter influenciado o desempenho da Bolsa, mas é algo muito subjetivo e difícil de mensurar em um dia de ganhos em todas as bolsas disse Rossano Oltramari, analistachefe da XP Investimentos.

Para Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, os rumores tiveram pouco efeito na Bovespa. Ele afirma que a vitória era esperada: A melhora da indústria da China impulsionou as commodities metálicas e o petróleo, produtos que têm muita influência na Bolsa brasileira.

Os destaques ficaram para Vale e Petrobras. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da mineradora subiram 1,24% ontem, para R$ 48,34. As ordinárias (ON, com voto) tiveram alta de 2,24%, a R$ 54,80. Já as ações da Petrobras subiram 2,48% nas preferenciais (a R$ 26,49) e 1,93% nas ordinárias (a R$ 29,10).

Já o dólar comercial subiu 0,29%, após uma sequência de duas quedas na última semana, a R$ 1,708. O BC realizou apenas um leilão de compra da moeda no mercado à vista, após realizar dois leilões diários desde 27 de setembro deste ano.

Para a Standard & Poors, a eleição não acrescentou incertezas à economia brasileira. Segundo a instituição, os riscos de uma queda do grau de investimento do Brasil permanecem limitados, desde que a próxima administração reafirme seu compromisso com a prudência fiscal. Para a agência, uma melhora na classificação de risco do país passa pelo ajuste fiscal, o que reduziria os riscos de um descontrole de gastos em infraestrutura para a Copa de 2014, Olimpíadas de 2016 e para a exploração do pré-sal.

Segundo a pesquisa semanal Focus, do BC, os analistas do mercado pioraram suas previsões para a inflação este ano e em 2011. Eles agora calculam que o IPCA (usado nas metas do governo) fechará este ano a 5,29%, acima dos 5,27% vistos na semana anterior, e, em 2011, a 4,99%, ligeiramente superior aos 4,98% observados até então. O centro da meta de inflação do governo deste e do próximo ano é de 4,5%.

COLABOROU: Patrícia Duarte