Título: O avanço do milho transgênico
Autor: Furbino, Zulmira
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2009, Economia, p. 17

Plantio de sementes geneticamente modificadas ultrapassará 50% das lavouras

Lavoura ´´modificada´´: custo baixo versus risco de contaminação

O milho transgênico foi adotado pelos agricultores brasileiros a uma velocidade de corrida Fórmula 1. Mais da metade da próxima safra do grão (2009-2010), que começa a ser plantada em setembro, será de sementes geneticamente modificadas. Na safra anterior 2008-2009, a primeira com cultivo dessas sementes no país, essa proporção era de apenas 9%. Um exemplo desse avanço pode ser constatado no plantio da entressafra em algumas regiões. No ano passado, quando a semente começou a ser vendida, a previsão era de que o milho modificado geneticamente ocuparia 19% da área plantada. Hoje, na safrinha no campo, verifica-se que 30% da lavoura foi ocupada pelo novo grão, segundo o Conselho de Informações sobre Biotecnologia (Cib).

A rapidez pegou de surpresa os especialistas do agronegócio e só não foi maior porque em 2008 faltou semente geneticamente modificada. Este ano, porém, muitos agricultores estão reservando de 80% a 90% do seu cultivo de milho transgênico. É o caso do produtor Orlando Machado, que planta milho em Montes Claros, no norte de Minas, cuja lavoura será 90% transgênica. Na safra passada, todo o milho produzido por ele foi convencional. ¿Estou de olho no milho geneticamente modificado porque ele reduz o custo da produção.¿

Alda Lerayer, diretora executiva do Cib, explica os motivos da adoção da tecnologia. ¿Geralmente, isso acontece aos poucos. Os produtores começam com 10% da produção e vão ampliando gradativamente¿, explica. Não foi o caso do milho geneticamente modificado, resistente a lagartas e insetos. ¿A redução de custos é grande. O agricultor ganha na diminuição de aplicações de inseticidas. No plantio do milho comum, eles chegam a ser aplicados nove vezes¿, diz. Entre os agricultores paranaenses que plantaram a nova modalidade na safra passada, de acordo com Alda, 85% não fizeram nenhuma aplicação e 15% realizaram apenas uma.

Cláudio Nasser, vice-presidente do Sindicato Rural de Patos de Minas, é produtor de sementes de milho no Alto Paranaíba (MG). No ano passado, 30% das sementes que produziu eram transgênicas, mas esse percentual subirá para 100%. Um grupo de 12 agricultores do município, que cultivam 30 mil hectares de milho e de soja, chegou a fundar uma associação para pesquisar os resultados do milho transgênico, uma vez que a cultura da soja modificada na região já atinge entre 60% e 70% da lavoura e está consolidada. Na semana passada, eles se reuniram para avaliar o custo-benefício e concluíram que, comparado com a cultura convencional, a produtividade do transgênico representa 10 sacas de milho a mais por hectare. O ganho é de 7,5% por hectare.

Polêmica O uso de alimentos transgênicos é um tema polêmico no Brasil. No caso do milho, entidades de defesa do consumidor e ambientalistas reclamam que o grão convencional está sendo colhido e misturado ao transgênico. Ambientalistas sustentam que a contaminação das lavouras de milho convencional e orgânico pelo transgênico é impossível de ser evitada. Por outro lado, não existem estudos que garantam a segurança ¿ ou prejuízo ¿ dos alimentos geneticamente modificados para a saúde humana. Das 45 milhões de toneladas de milho produzidas anualmente no Brasil, 75% transformam-se em ração para frangos, bovinos e suínos, 15% são exportados e 10% destinam-se ao consumo humano direto.

Transgênico O termo transgênico deriva da transgênese, que é uma biotecnologia aplicável em animais e vegetais que consiste em adicionar um gene, de origem animal ou vegetal, ao genoma que se deseja modificar. A engenharia genética, ao transferir genes entre espécies diferentes, quebrou a fronteira entre as espécies ao possibilitar que qualquer ser vivo adquira novas características. Um exemplo é a introdução do gene do vaga-lume, responsável pela ¿luminosidade¿ do animal ao genoma da planta do tabaco. O resultado foi que o tabaco passou a ser capaz de emitir luz. Duas das grandes questões sobre a biotecnologia são os impactos e a reação da natureza a essas modificações.