Título: O fim do sonho americano
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 27/08/2010, O Mundo, p. 41

Equatoriano queria emprego para sustentar a esposa grávida

ANGELITA, DE 17 anos,mostra uma fotografia junto ao marido, Luis Freddy Lala Pomavilla, o único a escapar da chacina no México

Do El Comercio

CAÑAR, Equador. Há um mês, quando deixou a comunidade agrícola de Ger, nos arredores de Gualleturo, na província equatoriana de Cañar, Luis Freddy Pomavilla Lala, de 18 anos, tinha um plano: trabalhar nos Estados Unidos para sustentar a esposa, Angelita Lala, de 17 anos e grávida de quatro meses. O jovem casal já havia perdido o primeiro filho, que morreu aos seis meses. Os sonhos, no entanto, foram interrompidos pelo crime organizado. Luis é o único sobrevivente da chacina que matou 72 pessoas em busca do sonho americano.

Terceiro de uma família de oito filhos, Luis Freddy fez um empréstimo de US$11 mil junto a um contrabandista para bancar os custos da travessia e esperou ansiosamente completar 18 anos ¿ poucos dias antes do embarque, segundo sua esposa ¿ para obter um passaporte e seguir viagem. Os pais do jovem, Alejandro e Maria Oliva, vivem nos EUA ¿ ele cruzou a fronteira há quatro anos e ela, há dois.

¿ Há uma semana, ele ligou para dizer que estava bem, que tinha chegado à Guatemala e ia seguir adiante ¿ contou a esposa, que até a noite de quarta-feira não sabia do crime.

A notícia chegou através do primo, Hector Lala, que bateu à porta da pequena casa para alertar: algo havia acontecido. Nervosa e cercada de parentes e vizinhos, Angelita teve medo. Desconhecia detalhes da jornada e só queria saber se o marido estava vivo.

¿ Ele contou que havia outros viajantes de Chontamarca e Sigsig ¿ lembra a esposa.

A 12 quilômetros de Gualleturo, o acesso a Ger é por uma estrada em péssimo estado de conservação. Sem água encanada ou esgoto, há apenas energia elétrica no povoado de cem famílias. Líderes comunitários admitem que não é raro jovens arriscarem-se em busca de uma vida melhor nos EUA e na Espanha.

¿ Aqui não há oportunidades de emprego ¿ disse o padre Galo Gallardo, que há 40 anos mora na região.

Na terra natal, os jovens cultivam milho e feijão. E era isso que fazia Luis Freddy ¿ trabalhava na plantação que os pais deixaram para trás quando emigraram. Com apenas um cômodo de tijolos, a casa de Luis e Angelita é uma das mais humildes do povoado. A avó dele, Maria Josefa, era a que mais chorava: achava que o neto estava morto.

¿ Ele se foi sem nos avisar. Contou somente à esposa ¿ lamentava Josefa.

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