Título: Avançando sobre a Petrobras
Autor: Carneiro, Lucianne; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 21/08/2010, Economia, p. 35

Para analistas, capitalização pode levar União a aumentar sua fatia na estatal

Lucianne Carneiro, Gustavo Paul, Gerson Camarotti e Geralda Doca

Oministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a capitalização da Petrobras está mantida para 30 de setembro. Nos bastidores, o governo não descarta a possibilidade de adiamento, diante de cotações díspares para o preço do barril apresentadas pelas certificadoras contratadas por Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mas o governo fará um esforço concentrado nos próximos dias para tentar salvar o cronograma da capitalização. Em meio às incertezas sobre a operação, analistas do mercado afirmam, porém, que seja qual for a estrutura do plano de capitalização, a tendência é que a União aumente sua fatia na Petrobras, hoje de 32,1%.

- Se o valor do preço do barril cedido à Petrobras ficar acima de US$6, compromete a demanda dos minoritários. Quanto maior o preço, menor será a adesão. E a tendência é que o governo compre o que sobrar, ampliando sua participação na Petrobras - afirma o analista de petróleo e gás da SLW Corretora Erick Scott Hood.

Rumores do mercado apontavam que o preço do barril sugerido pela certificadora contratada pela ANP seria entre US$10 e US$12. E a consultoria contratada pela Petrobras teria chegado a um valor entre US$5 e US$6. O preço do barril é peça chave na operação, porque vai definir qual será o aporte da União na capitalização.

Governo corre contra o tempo

Para a analista de petróleo da Ativa Corretora Mônica Araújo, é difícil determinar qual poderia ser o aumento da fatia do governo na Petrobras, já que isso depende da disposição dos minoritários em participar da operação.

- A consequência de uma valorização maior do barril de petróleo é o aumento da participação do governo na Petrobras. Disso não há dúvida - diz Mônica. - Meu receio é que o aumento de capital da União reduza o comprometimento da Petrobras com os acionistas minoritários.

Para a estatal e para os minoritários, interessa que o barril seja fixado a um preço baixo. No caso dos minoritários, ficaria mais barato participar da capitalização. Para a Petrobras, significaria pagar menos à União pela cessão dos barris. E para a empresa interessa uma ampla participação dos minoritários na capitalização.

- Quem vai colocar efetivamente dinheiro no caixa e bancar os investimentos da companhia são os minoritários - afirma Victor de Figueiredo, da Planner Corretora, lembrando que a participação da União será apenas via cessão de barris.

Ontem, ao ser perguntado sobre a data da capitalização, o ministro Mantega respondeu que "fica mantido o que a empresa tem dito". A Petrobras disse esta semana que a operação deve ser feita até 30 de setembro. Mantega evitou citar as conclusões das empresas certificadoras:

- Recebemos os dados ontem (anteontem), são dados preliminares. Não são definitivos e estão sujeitos a mudanças - disse. - São vários dados. O potencial das áreas, tempo de duração, rentabilidade. Tudo tem que ser analisado. Não dá para em 15 minutos chegar a alguma conclusão.

Apesar de reconhecer que o adiamento é uma opção impossível de ser descartada, o governo tenta manter o cronograma. Estão programadas reuniões técnicas hoje e amanhã, que devem se estender para semana que vem. A meta é tentar fechar os termos do contrato da cessão onerosa até 31 de agosto. Segundo técnicos do governo, mantendo as datas já anunciadas, é viável manter para 30 de setembro a capitalização, ainda que o cronograma seja apertado.

Capitalização seria usada na campanha

A avaliação política do governo é que essa postergação traria danos políticos para a campanha petista à Presidência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer a capitalização imediata. O PT já identificou que a campanha do tucano José Serra deseja explorar o tema, caso a capitalização fique para 2011. Isso porque a candidata do PT, Dilma Rousseff, foi uma das responsáveis pelo marco regulatório do pré-sal e o tema está sendo usado em sua campanha.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi enfático ontem:

- Não tenho dúvida de que a capitalização vai acontecer antes da eleição. E vai ser o maior negócio do capitalismo no mundo.

O governo, porém, antecipa muitos revezes no processo. O maior temor, diz uma fonte com trânsito no Palácio do Planalto, é com as ações judiciais. Por essa razão, está havendo um esforço para se chegar a um consenso sobre o preço do barril. Para observadores, o equilíbrio seria US$8.

Se o valor de US$8 for escolhido e forem cedidos os 5 bilhões de barris, a participação da União chegaria a US$40 bilhões, levando a capitalização para R$220,5 bilhões (com dólar a R$1,77). O problema é que esse valor extrapola o limite de R$150 bilhões aprovado pelos acionistas da Petrobras em assembleia. Segundo técnicos do governo, esse limite poderia ser alterado em nova assembleia, mas isso enfrentaria resistência dos minoritários. Outra opção é reduzir o montante de barris cedidos. Se esse volume cair para 4 bilhões, a US$8, a participação da União seria de US$32 bilhões e a capitalização, R$176,4 bilhões.

COLABOROU Bruno Villas Bôas, com Agência Brasil