Título: Bicicletas, agora com selo do Inmetro
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 18/08/2010, Economia, p. 34

Componentes relativos à segurança, nacionais e importados, terão certificação compulsória

Andar de bicicleta vai ficar mais seguro. Quatorze componentes relacionados à segurança do veículo para adultos passarão a ter certificação compulsória do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). Apesar de o cronograma dos programas de certificação para adequação de fabricantes, importadores e comerciantes se estender até 2013, o Inmetro acredita que, até o fim deste ano, já surjam as primeiras bicicletas com componentes certificados.

¿ Havia normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para adoção voluntária desde 2002. O que fizemos foi regulamentá-las e torná-las obrigatórias. Os laboratórios de certificação já estão sendo preparados. E como há fabricantes atuando dentro das regras, acreditamos que ainda este ano tenhamos produtos com peças certificadas ¿ explica Leonardo Rocha, gerente substituto da Divisão de Programas de Conformidade do Inmetro, acrescentando que o prazo estendido visa a possibilitar a adoção pelos pequenos fabricantes.

Fabricantes afirmam que não haverá impacto no preço

O Brasil é o terceiro maior fabricante de bicicletas do mundo, perde apenas para China e Índia. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a estimativa é de que 5,7 milhões de bicicletas sejam produzidas e vendidas no país este ano. A invasão de componentes importados de baixa qualidade levou o próprio setor a recorrer ao Inmetro para pedir a certificação obrigatória das peças. O monitoramento de recalls pelo instituto, inclusive fora do Brasil, fortaleceu a demanda.

¿ Muitas vezes os componentes não tinham a qualidade desejável, mas prevalecia o preço. Apesar de não haver estatísticas de acidentes de ciclistas específicas por problemas com o veículo, sabemos que a bicicleta ficará mais segura para o usuário. Haverá um aumento de qualidade, segurança e durabilidade, sem impacto no preço, pois as grandes montadoras já usam componentes dentro da especificação ¿ afirma Moacyr Alberto Paes, diretor-executivo da Abraciclo.

Roberto Antunes, coordenador da Associação Brasileira dos Fabricantes, Distribuidores, Importadores, Exportadores de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi), também não acredita em impacto no preço:

¿ A longo prazo, o custo da certificação é diluído. E o processo é positivo para todas as partes envolvidas. Além de garantir a segurança, reafirma o cumprimento do Código de Defesa do Consumidor (CDC), estabelecendo inclusive o tratamento das reclamações.

Diferentemente do que acontece com as bicicletas infantis, os modelos adultos não serão certificados montados. Isso porque 60% das bicicletas vendidas para esse público são customizados, segundo informação da Abradibi.

¿ Está caindo em desuso a venda de bicicletas montadas, tanto para o lazer quanto para o esporte. Além disso, ao certificarmos o componente aumentamos a abrangência, garantindo que, ao fazer um reparo na bicicleta, o usuário tenha acesso a peças certificadas, tendo mais segurança ¿ destaca Rocha.

Levantamento do Ministério das Cidades mostra que apenas 0,79% dos brasileiros usam a bicicleta para deslocamentos. Aumentar esse percentual é o objetivo do Programa Bicicleta Brasil, do Ministério das Cidades, criado em 2004. Segundo Cláudio Oliveira da Silva, coordenador do programa, no país, o primeiro uso da bicicleta é para o lazer e o segundo, para o esporte.

¿ Apesar de sermos o quinto maior consumidor de bicicletas do mundo, ainda as usamos pouco para deslocamento. Em cidades até 60 mil habitantes, o percentual da população que usa o veículo com o meio de transporte é de 2,9%. Na China e na Índia, esse percentual chega a 20%. Em Copenhague, na Dinamarca, a 55%. E em São Paulo é de 0,9%. O que fazemos é fomentar, com informação técnica e financiamento, ainda que escasso, essa discussão nas cidades, para implementação de políticas que incentivem o uso da bicicleta.

Para Carlos Thadeu, gerente de Informação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), as políticas de incentivo devem acompanhar o aumento da segurança:

¿ Precisamos incentivar o uso da bicicleta para locomoção, mas também não é possível deixar questões relacionadas à segurança como de adoção voluntária. O ideal agora seria avançar essa certificação para os acessórios para os ciclistas, como os capacetes.