Título: Amorim vai falar por Lula e cobrar dos ricos
Autor: Berlinck, Deborah ; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 29/01/2010, Economia, p. 28

Discurso a ser lido em Davos tem balanço do governo. Brasil proporá que líderes do G-20 fechem acordo sobre Doha em junho BRASÍLIA, DAVOS e ZURIQUE. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará compensar sua ausência no Fórum Econômico Mundial, em Davos, com um discurso forte, centrado em um balanço sobre seus sete anos de governo. Na mensagem que será lida hoje pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, Lula destacará que o Brasil adotou programas sociais de sucesso, como o Bolsa Família, além de cobrar uma nova forma de governança dos países ricos. Ele ainda dirá que o desenvolvimento e a estabilidade econômica só são possíveis com a inclusão social.

Além disso, o Brasil vai propor que os líderes do G-20 ¿ que reúne as principais economias ricas e emergentes ¿ arregacem as mangas na próxima reunião de cúpula no Canadá, em junho, para fazer o que seus ministros não conseguiram: fechar um acordo para concluir a Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

¿ As negociações são sérias demais para serem deixadas para os líderes comerciais. Se os líderes (políticos) não se envolverem, não terá solução ¿ afirmou Amorim, que janta hoje com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, e no sábado participa de uma reunião de ministros do Comércio.

Lamy acha que é possível fechar a Rodada em 2010, se houver vontade política. Amorim citou como exemplo a conferência sobre o clima em Copenhague.

O ¿Acordo de Copenhague¿, que o chanceler considera um sucesso mas que ambientalistas taxam de fracasso, foi inicialmente costurado por 28 países. Ele acha que o mesmo pode ocorrer com Doha: ¿ É preciso que os primeirosministros e presidentes entendam o que falta resolver na parte comercial como entenderam na parte do clima. É preciso que eles entendam qual o total de subsídios permitidos.

Mantega vê condições políticas para restrição a bancos Segundo fontes que tiveram acesso ao discurso, Lula dirá que programas sociais bem-sucedidos permitiram o fortalecimento do mercado interno e o crescimento da economia. O presidente mencionará as medidas que foram adotadas pelo Brasil para enfrentar a crise. E dirá que uma governança em novas bases deve se pautar pelo fim da exclusão social, restrições enérgicas ao capital especulativo e a realização de uma ampla reforma no sistema financeiro internacional.

Demonstrando que não desistiu de emplacar a candidatura do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Lula defenderá a urgente reforma das Nações Unidas. E fará um apelo pelo Haiti. Acompanhado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Amorim também receberá, por Lula, o prêmio Estadista Global.

Mantega disse ontem em Zurique, antes de ir ao Fórum, que ¿ainda há condições políticas¿ de impor controles mundiais aos bancos para frear as atividades financeiras de alto risco e reduzir a vulnerabilidade do sistema, segundo o site da BBC: ¿ Eles (os bancos) não gostam disso, é claro que cada um quer fazer o que bem entende.

Mas ficou provado que assim não funciona. O setor financeiro, por sua natureza, precisa ser regulamentado