Título: O atraso está de volta
Autor: Alquéres, José Luiz
Fonte: O Globo, 24/10/2009, Opinião, p. 7

Um novo surto de reestatização poderá levar o Brasil de volta àquele quadro pré-anos 90, que uma boa parte da população sequer conheceu, mas cujos efeitos negativos ainda paga. A difícil conquista de um ambiente favorável aos negócios está em risco.

No meu discurso de posse na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), em 24 de junho passado, externando a preocupação de milhares de empreendedores, apontamos o crescente aparelhamento do Estado, das estatais e dos seus fundos de pensão (como se confirma pelo noticiário recente na empresa Furnas, velha glória do setor elétrico).

Nos últimos três meses, (a) acentuou-se a sanha arrecadatória, indo além da capacidade das empresas privadas e das pessoas físicas; (b) o benefício da competição ¿ responsável por preços módicos nas tarifas de pedágio rodoviário e das novas hidrelétricas do Rio Madeira ¿ e a preocupação com a sustentabilidade foram descartados na proposta de legislação a reger a exploração do pré-sal; (c) uma CPI do Congressoconcentra-se em esmiuçar possíveis ganhos de distribuidoras de energia elétrica de resto tabelados pelo regulador; (d) o MST, além de receber recursos para continuar invadindo, agora destrói propriedades produtivas; (e) é constante o desrespeito à independência das agências reguladoras e ao seu corpo técnico.

Keynes escreveu : ¿Não é função do governo fazer um pouco melhor ou um pouco pior o que os outros podem fazer e, sim, fazer o que ninguém pode fazer.¿ Nas última semanas, vimos exatamente o contrário. O governo deixou prosperar um movimento para destruir a boa gestão da iniciativa privada capitaneada por Roger Agnelli e seus diretores na Vale, nossa maior empresa privada. Em vez de celebração à Vale e aos seus diretores, que brilhantemente conseguiram esses resultados num mundo onde poucos conseguiram sequer se equilibrar, recebem críticas, desaprovações etc.

Latinoamericano certamente, o Brasil se distingue da Venezuela de Chávez, da Argentina dos Kirchner e do resto da América do Sul por abrigar uma dinâmica base empresarial privada, que cria, exportapaga impostos ¿ dos mais altos do mundo, por sinal. Isso incomoda muita gente, especialmente os que ficam nos empurrando para esses modelos indesejáveis.

Na sua posse durante recente 19 oCongresso das Associações Comerciais do Brasil, o novo presidente da CACB, José Paulo Dornelles Cairolli, reiterou as mesmas preocupações do meu discurso de posse, apoiado também pelo presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti: exclusão da iniciativa privada e da sua voz nos processos decisórios, carga tributária excessiva e demais temas correlatos.

O empresariado está unido nas suas associações comerciais e alinhado na rejeição a este surto de estatismo, de asfixia da iniciativa privada e de aparelhamento do Estado que hoje compromete a vida das empresas e a liberdade da imprensa.

Nos últimos anos, o Estado colheu os benefícios da redução da sua presença na área econômica, e assim pôde, através de poucas mas decisivas iniciativas, valorizar a sua presença na área social. A continuidade disso depende de uma iniciativa privada vigorosa e competitiva.