Título: Os 3G na ante-sala do poder
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 15/07/2008, Economia, p. 21

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Greenhalgh, Guiga e Guga usariam influência no governo para facilitar negócios de Dantas.

O ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, dirigente do PT, é suspeito de integrar um triunvirato que alcança desde a ante-sala do Gabinete da Presidência da República, passando por Congresso Nacional e partidos políticos, até contatos amistosos na cúpula do Judiciário federal, em especial, Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, para ajudar nos supostos negócios ilícitos do banqueiro Daniel Dantas. Segundo relatório da Polícia Federal, Greenhalgh - codinome Gomes - formaria a "equipe de apoio" a Dantas, ao lado de Guilherme Henrique Sodre Martins, o Guiga, e Humberto José Rocha Braz, o Guga, apontado como sócio do banqueiro. Greenhalgh teria recebido pelo menos R$650 mil do banqueiro, afirma a PF.

A vasta rede de contatos do grupo atuaria em prol dos interesses de Dantas, os novos investimentos em mineração, a obtenção de informações sigilosas etc. Os nomes citados pelo trio nas gravações interceptadas pela PF são poderosos: a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff - identificada como "Margaret"-, o ministro da Integração Regional, Gedel Vieira Lima, o secretário pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).

Dilma teria se reunido com o trio

Em um diálogo monitorado pela PF, dia 13 de março, Greenhalgh diz a Braz (preso no domingo pela PF, acusado de suborno) que recebeu um recado de Dilma, com referência à venda da Br Telecom: "Diga ao Greenhalgh que eu não quero falar sobre o assunto, que o governo já se meteu demais sobre esse assunto". Em todos os encontros que o grupo diz ter tido com a ministra, Dilma estaria livre nos momentos citados, segundo a PF, que checou sua agenda.

O grupo também afirma que foi informado pelo senador Heráclito Fortes (DEM) de que ele foi a plenário defender a ministra dos ataques por causa do chamado dossiê FHC, alvo de ataques contra Dilma. O senador teria defendido a ministra a pedido do grupo de Dantas.

No Senado e na Câmara, também haveria "colaboradores": Fortes, a senadora Ideli Salvatti (PT), o ex-deputado federal Sigmarina Seixas (PT) são os mais citados. Em uma das gravações, Fortes recebe agradecimentos pelo apoio. Ideli seria um alvo do grupo, que tentaria agradá-la. Seixas também teria sido acionado para ajudar o grupo e recebido Dantas em uma conversa.

A PF também diz que Greenhalgh conseguiu adiantar para Braz o voto do ministro Sidnei Beneti, do STJ, em processo em que o Opportunity era uma das partes. Em 15 de abril, Greenhalgh foi interceptado conversando com Braz sobre o caso. O petista diz que está em Brasília e vai ao escritório do ministro do STJ, que iria participar naquele dia do julgamento do processo 2006/0236147-2, em que disputavam investidores institucionais de fundos de ações e o Opportunity Equity Partners Ltd. O grupo de Dantas queria adiar a decisão judicial para forçar um acordo do Citibank, possibilitando a venda da BrT para a OI.

Em uma segunda conversa, no mesmo dia, Greenhalgh tranqüiliza Braz, dizendo que é "um abraço". Vinte minutos depois, em outro diálogo, o petista conta a Braz que o relator, o ministro Ari Pargendler, iria apresentar seu voto, mas o 2º magistrado, Beneti, pediria vistas do processo. Como Greenhlagh havia adiantado, o relator votou e o segundo julgador pediu vistas, mas o terceiro componente da turma, o ministro Massami Uyeda, antecipou o voto e acabou indo contra os interesses do Opportunity.

PF: serviço jurídico era fachada

"Não há como afirmar se realmente ocorreu conversa com o ministro Beneti. O que se pode afirmar é que Greenhalgh diz ter realizado tráfico de influência e que teria a informação privilegiada sobre o pedido de vista do ministro", diz o delegado da PF Protógenes Queiroz em seu relatório. Outras gravações mostram que Dantas acompanhava o caso. No dia anterior, o sócio de Dantas, Arthur Joaquim Carvalho, fala com Verônica Dantas, irmã do banqueiro. Ela avisa que "o ministro é Beneti" e diz que Carvalho "precisa passar os detalhes sobre a legislação para o Madeira, que é amigo do Gilmar". Para a PF, tratava-se de Gilmar Mendes, presidente do STF.

Para a PF, o triunvirato funciona como lobistas (o que não é ilegal), mas acaba por praticar vários crimes. "Estas pessoas (Gomes, Guga e Guiga) foram contratadas por Dantas para, em suas respectivas esferas de atuação, obter informações de interesse do grupo, contatar pessoas importantes, inclusive deputados e senadores, ministros de estado e com a mídia (...)", diz o relatório, explicando em seguida que "Gomes, Guga e Guiga" devem ser acusados pelo menos por formação de quadrilha e tráfico de influência.

Greenhalgh presta serviços advocatícios para Dantas, mas segundo a PF, "os serviços prestados passam longe da assessoria jurídica (...). É provável que exista contrato de prestação de serviços advocatícios para justificar os pagamentos que recebe".

Em 4 de abril, o petista discute com um homem identificado como Carlos Amarante como investir seu dinheiro. Em seguida, revela que recebeu "honorários de R$650 mil". Amarante fornece uma conta no HBS Pactual para que a quantia seja depositada. "Há indícios de que esses valores sejam proventos do crime", diz o relatório da PF.