Título: ONU, FMI e Papa contra a fome
Autor: Ameaça, Global
Fonte: O Globo, 04/06/2008, Economia, p. 19

Secretário-geral da FAO cobra fim de barreiras a exportações na cúpula sobre segurança alimentar

Os principais líderes mundiais e organismos multilaterais, como a ONU e o FMI, - e até mesmo o Papa, representado pelo cardeal Tarcisio Bertone - se reuniram ontem em Roma com o propósito de erradicar a fome no mundo, num esforço coordenado. Em seu discurso na abertura da Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre segurança alimentar, mudanças climáticas e bioenergia, em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, lembrou que 800 milhões de pessoas dormem com fome. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, criticou as barreiras comerciais e as políticas assistencialistas, que segundo ele, pressionam os preços dos alimentos. Já o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, disse que a crise de alimentos implicará em um prejuízo de US$30 bilhões por ano. Em mensagem lida na cúpula, o Papa Bento XVI destacou que a fome é inaceitável em um mundo com condições materiais de produzir alimentos para todos. Até o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, presente à reunião, classificou a alta de preços dos alimentos como um grave problema humanitário e afirmou que a ajuda alimentar é "imperativo moral e econômico".

- Nada mais degradante do que a fome, especialmente quando produzida pelo próprio homem - disse o secretário-geral da ONU, acrescentando que o mundo precisará elevar a produção de alimentos em 50% até 2030 para fazer frente à crescente demanda global.

Ban Ki-moon criticou as rígidas políticas comerciais de vários países que, preocupados com desabastecimento ou aumento de preços no mercado interno, estão impondo cotas às exportações de alimentos.

O presidente Lula, por sua vez, ressaltou a gravidade do problema:

- Quero lembrar aos senhores que, todas as noites, mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir com fome, o que é uma indignidade e um insulto à Humanidade. Estamos diante de um problema grave e delicado e, para enfrentá-lo, temos de compreender suas causas.

Líderes cobram ação urgente

Diouf cobrou as promessas feitas por líderes mundiais no passado e que nunca foram cumpridas. O diretor da FAO lembrou, por exemplo, que em 1996, 112 chefes de Estado e de governo prometeram reduzir pela metade a fome em 2015. Mas em 2002 a FAO teve que convocá-los novamente para mostrar que os recursos para financiar programas agrícolas estavam diminuindo, em vez de aumentar. No ritmo atual, os objetivos de reduzir a fome só vão ser atingidos em 2050, em vez de 2015:

- Isso é a crônica de uma catástrofe anunciada - disse Diouf.

O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, leu uma mensagem do Papa, na qual Bento XVI afirma que "o grande desafio hoje é globalizar não só os interesses econômicos e comerciais, mas também as expectativas de solidariedade, respeito e valorização de cada componente humano". E acrescentou:

"A fome e a desnutrição são inaceitáveis em um mundo que, na realidade, dispõe de níveis de produção de recursos e de conhecimentos suficientes para colocar um fim nesses dramas e suas conseqüências."

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, destacou que medidas para acabar com a crise de alimentos são urgentes.

- O mundo não pode se dar ao luxo de falhar - disse o premier britânico.

Ban Ki-moon, da ONU, seguiu a mesma linha:

- Temos a oportunidade de dar novo rumo à política alimentar. Os governos já começaram a preparar uma resposta para essa situação - disse o secretário-geral da ONU. - As ameaças são evidentes para todos.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também pediu rapidez na resposta ao problema da crise mundial de alimentos:

- Devemos e podemos nutrir o planeta, mas não o fazemos. Em vez disso, a cada 30 segundos uma criança morre de fome. Em vez disso, 850 milhões de pessoas passam fome.

Segundo o presidente francês, oferecer alimentos a preços mais baixos não deu certo.

- Era uma política generosa, mas não deu certo. A solução é o desenvolvimento das agriculturas locais.