Título: Esse cara segura a onda?
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O País, p. 14

Base teme depoimento de Aparecido

BRASÍLIA. O medo de que José Aparecido Nunes Pires venha a se transformar em um homem-bomba foi a tônica da reunião realizada ontem de manhã a portas fechadas entre os integrantes governistas da CPI do Cartão Corporativo. No encontro, foi o deputado Sílvio Costa (PMN-PE) que evidenciou o temor de que Aparecido incrimine a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, atribuindo a ela a ordem para a realização do dossiê com gastos do governo Fernando Henrique.

- Esse cara (Aparecido) segura a onda? E se esse cara chega na CPI e diz: "não, quem mandou fazer (o dossiê) foi a Erenice (Guerra, braço direito de Dilma na Casa Civil)". Aí, lá vem convocar a Erenice, e ela chega: "Não, quem mandou fazer foi a Dilma!". Nós não podemos fazer o jogo da oposição - disse ele, deixando claro os aliados desconhecem o poder de fogo de Aparecido.

O pernambucano Sílvio Costa é muito próximo do ministro das Relações Institucionais, José Múcio. Durante o encontro de ontem, ele disse que Aparecido está "profundamente contrariado" e por isso defendeu que seria "melhor para o governo" se a comissão adiasse a convocação dele e de André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias, que recebeu de Aparecido por e-mail o dossiê. Costa defendeu que a base montasse o discurso de que era melhor aguardar o fim da investigação da Polícia Federal, como uma política de redução de danos.

- É melhor um desgaste pontual, uma vez, do que a gente dar um tiro no escuro. A convocação de Zé Aparecido, meus amigos, é um tiro no escuro - afirmou.

Apesar de estar em primeiro mandato, Sílvio Costa tem sido convidado desde o início da CPI a participar de reuniões com os articuladores políticos do governo no Planalto. No encontro de ontem, ele mostrou estar bem informado sobre o acontece no Palácio e disse que Aparecido era homem do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Suas palavras reforçam a tese de que o dossiê não foi vazado acidentalmente, e sim a mando de alguém:

- Eu acho que a gente devia analisar com rigor esse caso. A rigor esse cargo é um cargo de confiança e ele estava profundamente contrariado desde que José Dirceu saiu. Ele é uma cara que estava subutilizado lá naquela secretaria e esse cara efetivamente prestou serviço a alguém.