Título: Amorim rebate FMI por crítica a biocombustível
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/04/2008, Economia, p. 25

Strauss-Kahn diz que produção a partir de alimentos cria "problema moral". Ministro cobra fim de subsídios.

BRASÍLIA e CHICAGO. Em resposta a declarações do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, de que a produção de biocombustíveis a partir de alimentos cria um "problema moral", o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que existe uma discussão equivocada e "simplicista" sobre o impacto dessa prática nos preços dos grãos. Segundo o ministro, em vez de criticar produtos como o etanol e o biodiesel, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deveria financiar políticas para esse tipo de energia renovável nos países africanos e latino-americanos mais pobres. As nações desenvolvidas, acrescentou Amorim, fariam sua parte abrindo seus mercados e reduzindo os subsídios.

À emissora francesa Europe 1, Strauss-Kahn disse que os biocombustíveis obtidos a partir de produtos agrícolas criaram "um verdadeiro problema moral" e que "nas revoltas da fome, o pior, infelizmente, talvez ainda esteja por vir":

- Quando se faz biocombustíveis de produtos agrícolas não usados na alimentação, tudo bem. Mas quando se faz de produtos alimentícios, representa um grave problema moral.

Chanceler responsabiliza Estados Unidos e UE

Amorim rebateu:

- O exemplo mais claro e nítido que existe de que esse discurso é equivocado é o Brasil. No Brasil, a produção de etanol aumentou com a produção de alimentos - afirmou o chanceler brasileiro, após a assinatura do documento final da 30ª Conferência Regional das Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). - Se o diretor-geral do FMI e o presidente do Banco Mundial querem dar uma recomendação que realmente melhore a produção de alimentos nesses países, deveriam dizer o seguinte: olha, em vez de reduzir para US$14 bilhões (os subsídios) nos EUA, ou US$20 bilhões na Europa, reduz a zero.

Amorim defendeu o manejo responsável dessas políticas, a melhor distribuição de renda nos países pobres e responsabilizou os países que mais concedem subsídios - União Européia e Estados Unidos - pela atual situação em regiões da África e da América Latina.

- O que impediu o crescimento da produção de alimentos em países africanos, em países sul-americanos, foram os subsídios. Não foi o biocombustível. Quer dizer, na África, que me conste, não se deixou de produzir alimentos para se passar a produzir biocombustíveis. Não produziam alimentos e continuam sem produzir alimentos, porque os subsídios da Europa e dos Estados Unidos impedem que isso ocorra - afirmou.

Preços do arroz batem recorde na bolsa de Chicago

No caso do Brasil e das nações africanas, afirmou, esses produtos podem, desde que haja manejo adequado, ser uma fonte de riqueza compatível com a produção de alimentos.

Já o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, alertou que os problemas decorrentes da elevação dos preços dos alimentos e a escassez de produtos básicos em países pobres também se devem aos altos valores que precisam ser pagos pelos fertilizantes e defensivos agrícolas. Hoje, poucas indústrias no mundo produzem esses insumos.

- Se não houver ações imediatas para permitir que os produtores agrícolas tenham acesso a insumos, teremos problemas - disse Diouf, acrescentando que o organismo vem tentando convencer governos e instituições de crédito internacionais a colaborarem com recursos para facilitar a compra de insumos pelos agricultores.

Ontem, os contratos futuros de arroz subiram pelo quinto dia consecutivo, para o recorde US$24,235 por 100 libras-peso (medida usada na comercialização), na Bolsa de Mercados Futuros de Chicago (Cbot).

(*) Com agências internacionais

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