Título: Brasileiro paga mais juros em janeiro
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 27/02/2008, Economia, p. 28

É a maior alta desde 1999. Uso do cheque especial incentivou aumento

BRASÍLIA. Um conjunto de seis fatores negativos - cenário pior do que o Banco Central (BC) projetava em janeiro - resultou, no mês passado, na maior elevação dos juros cobrados dos consumidores desde a maxidesvalorização do real, em 1999. As pessoas físicas arcaram com uma taxa de 48,8% ao ano, 4,9 pontos percentuais superior à de dezembro. Apenas uma modalidade de crédito não ficou mais cara: o CDC para outros bens que não veículos. O BC antecipou que o movimento de alta continua em fevereiro (1,8 ponto).

Mas o custo extra não desanimou os brasileiros. O volume de crédito concedido aos consumidores cresceu 1,8%, para R$323,428 bilhões ou 11,9% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Foi o maior índice da série histórica, iniciada em julho de 1994. Pela primeira vez na série, o prazo médio dos empréstimos ultrapassou o período de um ano: 369 dias, 19 a mais. Para pessoas físicas, o indicador ficou em 304 dias (29 dias mais).

Segundo Altamir Lopes, chefe do departamento econômico do BC, a maior procura por empréstimos foi um dos fatores que impulsionaram o aumento dos juros, combinada ao maior uso das modalidades de crédito mais caras, como o cheque especial, cuja taxa aumentou 6,9 pontos percentuais sobre dezembro, para 145% ao ano. Além disso, os bancos começaram a repassar a alta do IOF e da CSLL e o maior custo de captação de recursos decorrente da volatilidade financeira internacional.

O spread - diferença entre o que a instituição pagou para levantar os recursos no mercado e a taxa final cobrada - também subiu. A alta foi de 4,7 pontos percentuais, para 36,6 pontos. Contribuíram ainda as mudanças relativas ao crédito consignado (desconto em folha): a suspensão, por sete dias, da liberação de financiamento a aposentados e pensionistas pelo INSS e o reajuste dos juros da Caixa no empréstimo aos servidores do Judiciário.

- Certamente teremos uma elevação dos juros em fevereiro, motivada pelos mesmos fatores - disse Lopes.

Para Érico Ferreira, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a alta dos juros não significa que houve abusos por parte dos bancos.

- As margens (de lucro) continuam as mesmas.