Título: ABI: ações da Igreja Universal ameaçam liberdade de expressão
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Fonte: O Globo, 18/02/2008, O País, p. 9

Associação vê campanha de intimidação sem precedentes e faz apelo a juízes.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) manifestou ontem "extremada preocupação" com o conjunto de ações judiciais movidas por fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) para tentar intimidar jornais e repórteres. Em ações em comarcas de 20 estados, mas com trechos idênticos em alguns deles, seguidores e pastores da Igreja Universal processam a "Folha de S.Paulo" e a repórter Elvira Lobato por causa de reportagem sobre o império empresarial montado por Edir Macedo, fundador da Iurd.

Pessoas ligadas à Universal também estão processando o jornal "Extra" e seu diretor de Redação, Bruno Thys, e a Agência A Tarde, da Bahia, por causa de reportagem sobre ataque de um pastor a uma imagem sacra.

A ABI disse considerar que essas ações são grave ameaça à liberdade de informação e de expressão e pediu à Anistia Internacional um movimento mundial em defesa dos jornais e da jornalista. Anteontem, a Rede Record, ligada à Igreja Universal, usou fiéis para atacar Elvira, as reportagens e também O GLOBO, que publicou informações sobre os processos contra a jornalista e o "Extra".

Para a ABI, pastores e fiéis da Igreja Universal "desencadearam contra esses órgãos e contra a jornalista uma campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil".

A nota, assinada por Maurício Azêdo, presidente da ABI, diz ainda: "Ao longo de sua existência, o país conheceu a fúria repressiva do poder do Estado contra a liberdade de imprensa, como se deu sob o Estado Novo e sob a ditadura militar que nos infelicitou entre 1964 e 1985, mas jamais assistira a uma investida partida da própria sociedade civil contra a liberdade de informação, com a abrangência e o conteúdo desta que se materializa nas ações judiciais armadas contra esses jornais e contra essa jornalista. Através desse procedimento, buscam os autores de tais ações obter a cobertura do Poder Judiciário para cercear e condicionar o exercício do direito de informação".

Para a ABI, está claro "que há um cérebro e um comando a centralizar a instauração dessas ações judiciais", lembrando que seus autores estão espalhados por quase 20 estados, no caso da "Folha de S.Paulo", e municípios longínquos para dificultar a defesa. "Há a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório assegurado pela Constituição, em face da disposição da lei processual de que o alegado na inicial será tido como procedente se não houver contestação, ainda que se ressalve, nesta hipótese, a formulação de convicção própria pelo juiz".

Depois de citar indícios de uma ação orquestrada, a ABI diz que os processos são, "em seu conjunto, intolerável agressão à ordem democrática, pelo empenho em substituir o exercício de direitos consagrados pela legislação, especialmente o direito de resposta, por alternativa que, embora aparentemente abrigada pelas leis do país, subtrai o direito de ampla defesa estabelecido pela Constituição. É grave e preocupante que tal se faça sob o pálio de uma confissão religiosa, que se porá acima do olhar dissonante dos que não a professam e da visão crítica com que estes a encarem".

A ABI manifesta preocupação com a decisão dos magistrados, dizendo que a decisão deles afeta não apenas os jornais e jornalistas citados, "mas principalmente a integridade da democracia no país". A entidade anuncia na nota que divulgará em seu site (www.abi.org.br) os nomes desses juízes e os endereços desses juizados, para viabilizar a manifestação dos cidadãos sobre as ações da Igreja Universal.