Título: Brasil: maior aumento de transgênico
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Fonte: O Globo, 15/02/2008, Ciência, p. 34

País é o terceiro produtor mundial de sementes geneticamente modificadas.

O Brasil foi o país que registrou o maior aumento absoluto em todo o mundo da área cultivada com alimentos transgênicos entre 2006 e 2007, segundo um relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia (ISAAA, em inglês, uma organização ligada à indústria). A divulgação dos números ocorreu na mesma semana em que o país aprovou o cultivo do milho transgênico, o que deve ampliar ainda mais a área plantada este ano. A soja e o algodão geneticamente modificados já são plantados normalmente.

O aumento da área cultivada com transgênicos no país no ano passado foi de 3,5 milhões de hectares. Em termos relativos, entretanto, o Brasil ficou em segundo lugar, com um aumento de 30%, índice superado pela Índia (63%).

Apesar do aumento no cultivo e na área de lavouras, o Brasil manteve a posição de terceiro maior produtor mundial de culturas transgênicas (com 15 milhões de hectares de soja e algodão modificados geneticamente), ficando atrás dos Estados Unidos (com 57,7 milhões de hectares plantados) e da Argentina (com 19,1 milhões de hectares).

Em todo o mundo, segundo o relatório, a área de cultivo de sementes transgênicas cresceu 12% em 2007, chegando a 114,3 milhões de hectares - o segundo maior crescimento em termos de área nos últimos cinco anos.

Financiado pela indústria de sementes, o relatório sustenta ainda que o cultivo de transgênicos estaria ajudando a aliviar a pobreza de agricultores. Segundo o levantamento, 2 milhões a mais de agricultores plantaram sementes transgênicas no ano passado, totalizando 12 milhões em todo o mundo. Desse total, 11 milhões são pobres. Ainda segundo o relatório, esta é a primeira vez que os países em desenvolvimento (12) ultrapassam, em número, os países ricos (11) na cultura de transgênicos.

Apenas 8 países europeus cultivam sementes alteradas

A informação é contestada por grupos ambientalistas. Em documento divulgado anteontem, a ONG Amigos da Terra afirma que as culturas transgênicas levaram a um aumento maciço no uso de pesticidas e não trouxeram o aumento na colheita de alimentos para populações pobres prometido pela indústria. A ONG cita como exemplo a soja geneticamente modificada plantada no Brasil. Dados do relatório sustentam que o uso de pesticida nos cultivos aumentou em quase 80% no país. Além disso, ressalta, a maior parte da produção de transgênicos é voltada para a alimentação de animais, não de pessoas.

O presidente da ISAAA e autor do relatório da instituição, Clive James, discorda:

- Os agricultores que começaram a adotar essas culturas alguns anos atrás já estão começando a sentir vantagens socioeconômicas em comparação aos agricultores que não as adotaram - afirmou. - Se quisermos atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU de reduzir à metade a fome e a pobreza até 2015, os cultivos biotecnológicos terão um papel ainda maior na próxima década.

Os europeus continuam sendo os mais resistentes aos transgênicos: somente 8 dos 27 países da UE plantam sementes modificadas.