Título: Não há razão para aumentar carga tributária
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/01/2008, O País, p. 3

Após derrota do governo, Lula se declarou contra pacotes e ampliação de tributos.

Em 16 de dezembro, três dias após o Congresso rejeitar a prorrogação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desmentiu o ministro Guido Mantega, que havia admitido, no dia anterior, o aumento de impostos como compensação para a perda na arrecadação do tributo. Na ocasião, Lula disse que não havia "nenhuma razão para que alguém faça uma loucura de tentar aumentar a carga tributária". "A orientação que eu dei ao ministro da Fazenda é de que é preciso neste momento contar até dez. Não tem nenhuma medida precipitada", disse Lula, enquadrando Mantega.

No dia seguinte, no programa "Café com o presidente", Lula reafirmou que não aumentaria impostos: "Não há nenhum motivo para qualquer precipitação, não há nenhum motivo para anunciar medidas de forma extemporânea, para anunciar novos impostos. Vamos sentar e vamos ver qual foi o estrago, e o que fazer para colocar no lugar". No mesmo programa, Lula também disse que a estabilidade na economia não dependia da CPMF, contrariando o que dissera antes sobre o estrago que o fim da contribuição causaria à economia do país.

O presidente disse ainda, num café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, no dia 20 de dezembro, que tem "ojeriza" a pacotes econômicos. "Não quero ouvir a palavra "pacote". O Brasil já foi vítima na História de muitos pacotes que não deram certo. Eu prefiro comprar unidade por unidade".

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que o aumento de impostos seria a última opção do governo. Em entrevista publicada no último domingo, dia 30, no GLOBO, ele admitiu, no entanto, que poderia haver mudanças. "O governo já falou que não quer um pacotaço de aumento de tributos. Ainda não temos o detalhamento, mas podemos ter alguma majoração de tributos. Aumentar imposto é a última opção. Até porque o governo em cinco anos não fez aumento de tributos", disse o ministro.

Também o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), garantiu que o governo não ampliaria impostos. Após participar de uma reunião da equipe econômica com Lula, ele disse que o governo iria discutir o corte de despesas. "A determinação do presidente é que não haverá pacote, não haverá medidas de sobressalto para qualquer setor produtivo, nem ampliação de carga tributária. O governo vai discutir, a partir do próximo ano, a redução de gastos, porque não votaremos mais o Orçamento este ano." Jucá disse que o governo discutiria a reforma tributária. "Se todos pagarem, provavelmente haverá excesso de arrecadação, que poderá tapar um pouco do buraco."