Título: Consumo explode em Brasília e já atinge jovens de classe média
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 14/12/2008, O País, p. 4

Crack tem sido vendido e fumado na rodoviária e no Setor Comercial Sul.

BRASÍLIA. Em setembro do ano passado, numa entrevista ao GLOBO, a promotora Maria Fernandes, especialista em investigações sobre entorpecentes, fez um dramático alerta: o crack, droga até então desconhecida no Distrito Federal, estava chegando a Brasília com efeito devastador sobre segmentos mais pobres da população, sobretudo meninos de rua. Agora, pouco mais de um ano depois, o quadro é ainda mais preocupante.

Segundo o promotor José Theodoro Correa de Carvalho, colega de trabalho de Maria Fernandes, o comércio da droga cresceu nos bolsões de pobreza e agora, de forma surpreendente, está atingindo também jovens de classe média.

¿ O consumo de crack, que não existia há pouco mais de um ano, cresceu muito. Eu, por exemplo, estou com seis casos relacionados a pessoas de classe média, do Plano Piloto. Meus colegas têm outros tantos casos ¿ contou Theodoro.

O secretário de Segurança, Valmir Oliveira, confirma a disseminação do crack, inclusive em segmentos com maior poder aquisitivo. Segundo ele, o governo local já percebeu a tendência de alta e decidiu, em caráter imediato, aumentar a repressão ao tráfico e ao consumo. Equipes das polícias Civil e Militar foram destacadas, há uma semana, para fazer um mapeamento das áreas mais freqüentadas por traficantes e usuários e, a partir daí, tentar conter o despejo do crack no mercado brasiliense.

Mas, de antemão, a polícia já sabe que pedras de crack, um subproduto da cocaína com alto potencial de provocar dependência química, têm sido vendidas e fumadas com desenvoltura na rodoviária e no Setor Comercial Sul.

¿ É verdade que houve um aumento. É uma droga vendida em pequenas quantidades, e estamos tendo dificuldades para separar traficantes de usuário. Mas o governador José Roberto Arruda já determinou o reforço do combate à venda e ao consumo ¿ disse Oliveira.

As primeiras pedras de crack começaram a ser apreendidas em Brasília em 2006. Ano passado, depois de uma rápida pesquisa, a promotora Maria Fernandes descobriu que a droga estava se alastrando rapidamente, sobretudo entre meninos, guardadores de carro e prostitutas de áreas centrais de Brasília. A promotora estava especialmente preocupada porque o crack causa dependência rapidamente e, quase sempre, tem resultado devastador sobre a saúde e a vida do consumidor.

¿ O que mais impressiona é a rapidez com que o usuário vai da primeira dose ao fundo do poço ¿ afirma José Theodoro.

Recentemente a polícia prendeu um rapaz de 19 anos, morador do Plano Piloto, área de classe média. Ele foi flagrado vendendo crack com um objetivo: manter o consumo da droga, que experimentara pela primeira vez há quatro meses. Segundo Theodoro, até conhecer o crack, o rapaz costumava fumar maconha e levava uma vida normal. Estudava e trabalhava como qualquer pessoa da mesma faixa etária. Depois das experiências com o crack, perdeu o interesse pela escola e pelo emprego para se dedicar ao consumo da droga.