Título: Agruras da oposição
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 22/08/2007, O Globo, p. 2

Os tempos não são fáceis para a oposição. Democratas e tucanos haviam prometido obstruir as votações no Senado enquanto Renan Calheiros fosse presidente, mas ontem tiveram que recuar, para não contrariar a própria base social. E, por mais que a coalizão governista seja heterogênea e fisiológica, um estudo do Diap, divulgado pelo site "Congresso em Foco", mostra boas taxas de lealdade ao governo.

No ano que vem haverá eleições municipais, que não são determinantes, mas são importantes para a eleição geral seguinte, a de 2010, quando os votos e prefeituras conquistados irão constituir bases de apoio. O cenário é hoje favorável aos partidos do campo governista, ressalvados os imprevistos. Se a turbulência financeira internacional, que parece estar começando a passar, não atingir a economia real, e mais ainda, a economia popular, comprometendo os resultados positivos que a maioria da população vem traduzindo em votos e apoio ao presidente Lula; se os partidos da base não partirem para o canibalismo na campanha (e, por isso, pediu a Michel Temer, do PMDB, que reunisse a turma ontem num jantar, para a primeira conversa eleitoral). Se nenhuma nova grande crise surgir - seja ética, gerencial ou política... Enfim, há muitos "se", mas o vento sopra a favor.

O levantamento do Diap, baseado em 101 votações recentes na Câmara e em 12 no Senado, apurou bons índices de lealdade ao governo, que lhe garantem segurança razoável para enfrentar provas difíceis, como a da CPMF.

Na Câmara, PT, 88,12%; PMDB, 80, 20%; PCdoB, 80, 20%; PDT, 80, 20%: PSB,79, 21%; PP, 77, 23%; PTB, 77, 23%, para ficar só nos maiores. O PMDB, por exemplo, apresenta agora um índice de adesão melhor que no governo FH, quando oferecia, em média, ao governo, entre 50% e 60% dos votos da bancada.

No Senado, a correlação é ruim para o governo, mas a disciplina também é boa: PT, 91,67%; PCdoB, 91, 67%; PMDB, 83, 33%; PDT, 66, 67%; PSB, 75, 00%; PP, 83, 33%; PTB, 66, 67%. O problema é que todos eles, juntos, somam 51 votos, sendo de 49 o quórum para aprovar emendas constitucionais.

Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Diap, observa que a oposição no Senado é muito dura na retórica, mas, no voto, nem tanto. Apenas o PRB e o PSOL (que só têm um senador cada) votaram em mais de 50% das vezes contra o governo. O PFL e o PSDB votaram a favor de medidas do governo em 58,33% das vezes. PT e PCdoB são os mais fiéis, PTB e PDT, os que mais infiéis. Para os senadores da oposição, é difícil votar contra quando as medidas atendem a interesses de seus estados ou de setores que representa.

- Esta obstrução não leva à nada, prejudica o país e, se inviabilizar medidas importantes, a própria oposição - dizia o senador Aloizio Mercadante (PT), a caminho do plenário.

Uma das medidas em pauta era a MP da renegociação das dívidas agrícolas, que os agricultores esperam ver logo aprovada para contraírem seus empréstimos de plantio. Para muitos senadores da oposição, votar contra seria suicídio. Outra MP, a das normas para a pesca da lagosta, que vinham sendo cobradas pelos senadores nordestinos, inclusive os da oposição, como José Agripino e Tasso Jereissati. Outra MP dizia respeito às microempresas.

Já na Câmara, pela observação de Queirós, a oposição não é estridente como no Senado mas é muito mais firme no voto. O DEM votou contra o governo em 74,25% dos casos se o PSDB em 65,35%.

Na economia, o carisma de Lula, muitas coisas ajudam o governo. Mas a oposição se desajuda bastante com sua atuação. Em cada crise, pensa que o governo já está morto, parte para a pancadaria e sua agressividade parece ser reprovada.