Título: Simon vai à tribuna responder a ex-presidente
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 22/03/2007, O País, p. 3

Senador que atuou na CPI do PC rebate acusações de Collor de que foi vítima de farsa.

Legenda da foto: O SENADOR Pedro Simon cumprimenta Collor depois de discursar na tribuna: "Foi legítimo seu afastamento da Presidência"

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com uma semana de atraso, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) rebateu ontem o discurso do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), que na estréia na tribuna do Senado classificara de "farsa" o impeachment a que foi submetido. Simon não poupou ninguém, provocando constrangimentos não só a Collor como aos senadores que se solidarizaram com ele e não reconheceram a importância do trabalho da CPI que investigou as denúncias de corrupção contra seu governo, em 1992. O senador gaúcho também calou petistas e tucanos ao lembrar escândalos muito maiores que se sucederam após o governo Collor e não foram apurados.

Como um dos protagonistas da CPI criada para investigar o esquema de corrupção no governo Collor liderado pelo empresário Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente, Simon contestou a opinião de que Collor tenha sido injustiçado ou tenha tido seu direito de defesa cerceado no Congresso. Citou os depoimentos que sustentaram o início das investigações, como o de Pedro Collor e o do motorista Eriberto Batista, assim como as provas que mostraram que um Fiat Elba adquirido pelo ex-presidente foi pago com recursos de contas fantasmas abastecidas por PC Farias.

- Assim como seu mandato de senador por Alagoas é legítimo, foi legítimo seu afastamento da Presidência da República - afirmou Simon.

Collor, que assistia ao pronunciamento da primeira fila do plenário, fez vários apartes ao longo das duas horas em que Simon ocupou a tribuna, num debate. Em todas as intervenções, fez questão de lembrar a absolvição recebida pelo Supremo.

- Eu me pergunto, sendo as provas colhidas tão robustas, por que o Ministério Público não as acatou. Uma coisa é a opinião de uma pessoa, e respeito muito a de Vossa Excelência, mas vivendo dentro do estado de direito democrático, temos de reconhecer a decisão da mais alta corte do país - defendeu-se Collor.

Mas Simon não hesitou em criticar também o resultado do julgamento promovido pelo Supremo:

- Como gostaria de lhe dar razão... Mas foi triste a decisão do Supremo, como têm sido sempre suas posições nas grandes horas da política brasileira. A obrigação do Supremo naquela época era ir atrás das provas. Mas a regra do Supremo tem sido a de não condenar e nem julgar nenhuma autoridade. Infelizmente o Brasil hoje é o país a impunidade.

- Essa impunidade não serve para mim, pois perdi meus direitos políticos por oito anos - retrucou Collor.

"Vossa Excelência saiu daqui quase consagrado a Papa"

Aloizio Mercadante (PT-SP), outro atuante integrante da CPI do PC, foi o único que ajudou Simon a retratar o espírito dos parlamentares que lideraram o processo de impeachment.

- Tenho orgulho e confiança do que fizemos. O que nos motivou foi o sentimento de ética na política e na vida pública. Apresentamos à nação um relatório fundamentado e consistente - disse Mercadante, ao lado de Eduardo Suplicy (PT-SP), que também participou do julgamento de Collor.

Para Simon, a CPI que levou ao impeachment deveria servir de modelo para um país em que os escândalos se acumulam e os governos tentam impedir a apuração dos fatos. Ele citou CPIs que foram barradas antes de serem instaladas, como a de compra de votos para a reeleição e a que investigaria o processo de privatização, no governo Fernando Henrique, e a que pretende, no governo Lula, investigar o apagão aéreo e a Infraero.

- Depois de tudo a que assistimos, essa roubalheira do Fiat Elba pode parecer pequena hoje - disparou.

Collor protestou por considerar a expressão ofensiva. Simon imediatamente se desculpou, mas ironizou:

- Vossa Excelência joga com os fatos que é uma maravilha, daria um bom advogado. Talvez por isso meus colegas tenham ficado tão emocionados com o seu pronunciamento e Vossa Excelência tenha saído daqui quase consagrado a Papa.