Título: Falha humana causou o último apagão aéreo
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 22/03/2007, Economia, p. 23

Ontem, novo engano em Brasília deixou torre no escuro, sem prejudicar vôos. Empresa fará plantão 24 horas.

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. Um dia depois de o governo ter levantado a tese de sabotagem para explicar o caos nos aeroportos, fontes da Infraero admitiram ao GLOBO que os problemas ocorridos na torre de controle do aeroporto de Brasília no domingo foram falhas humanas, decorrentes de erros operacionais. A avaliação foi obtida com a primeira vistoria do Ministério de Minas e Energia, na tarde de segunda-feira. Ontem pela manhã, outro comando por engano deixou a torre - que cuida da aproximação de aeronaves - no escuro, e apagou os monitores com informações aos usuários durante sete minutos. Mas os vôos não foram prejudicados, porque os operadores usaram o sistema de rádio.

Fontes do governo relataram ontem que um problema técnico teria deixado o Cindacta 4 (sediado em Manaus) sem radares durante alguns minutos, na noite de segunda-feira. Mas fontes aeronáuticas e do controle de tráfego não confirmaram a informação.

Diante da seqüência de erros, a Casa Civil determinou à Infraero contratar emergencialmente uma empresa para fazer um plantão de 24 horas nas quatro subestações de energia do aeroporto - importante centro de distribuição de vôos do país, especialmente para as regiões Norte e Nordeste. O contrato valerá por 180 dias e custará cerca de R$300 mil. Dois técnicos da Eletronorte vão acompanhar esses serviços.

Enquanto isso, a estatal abrirá uma licitação para escolher uma prestadora de serviço por quatro anos em todos os aeroportos sob sua administração. A Infraero também abriu uma sindicância para apurar responsabilidades.

Uma fonte da Infraero explicou que a falha no domingo foi causada por um funcionário que deixou o gerador de energia conectado à rede principal no momento em que ocorreu a queda de luz. Com isso, o sistema pifou, e a torre ficou sem energia das 15h às 19h. Com o problema, a fonte de alimentação dos painéis com informações aos usuários no saguão e nas salas de embarque e desembarque queimou, e os monitores ficaram no escuro até o meio-dia de segunda-feira. Ontem, uma manobra errada tirou o sistema do ar novamente.

As falhas no domingo à tarde complicaram ainda mais o controle do tráfego aéreo, que funcionava com restrições desde o início da manhã, devido a uma pane que derrubou o sistema de informática no Cindacta 1. Por determinação da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, acompanhado do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, fez ontem uma vistoria no sistema elétrico da Infraero, a fim de evitar novas panes. A estatal também ficou de enviar um relatório detalhado sobre as panes à secretaria-executiva do Ministério.

Ontem, o dia foi mais tranqüilo nos aeroportos. Segundo a Infraero, dos 1.554 vôos previstos até as 20h, 241 tinham mais de uma hora de atraso (15,5%, praticamente o mesmo percentual de sábado, antes dos problemas). No Rio, o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim registrou 32 vôos atrasados, dos 77 programados, entre 8h e 18h. Apenas quatro tiveram demoras superiores a duas horas. No Santos Dumont, dos 48 vôos, 16 trechos (ou 33% do total) atrasaram, em média, 20 minutos, entre 6h e 18h.

Os aeroportos de Congonhas e Cumbica, em São Paulo, também operaram de forma regular. No início da tarde, segundo a Infraero, apenas 13% dos 146 vôos programados para Congonhas apresentavam atraso superior a 45 minutos.