Título: Apesar dos riscos, bolsas têm recuperação
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 35

Na China, alta foi de 3,94%, e, no Brasil, de 1,73%. Mas investidores ainda temem crescimento mundial menor.

RIO e PEQUIM. Um dia após a queda generalizada das bolsas mundiais, os investidores foram às compras, aproveitando a queda recente dos ativos. Os riscos, porém, não se dissiparam: o maior deles é uma desaceleração das economias americana e chinesa, que têm puxado a expansão global. Da mesma forma que, na véspera, a Bolsa de Xangai, ao cair 8,84% derrubou os principais mercados, ontem conseguiu efeito inverso: subiu 3,94%, abrindo espaço para a valorização dos mercados em todo o mundo.

A recuperação das bolsas foi sustentada pelo discurso tranqüilizador do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, e pela garantia do governo chinês de que não taxará os ganhos de capital no país. Mas a China manteve a informação de que foi criada uma força-tarefa para evitar operações ilegais com ações no país, sem detalhar o que poderia ser considerado ilegal nas bolsas.

Bernanke disse que os mercados estão bem e que as fortes perdas da véspera não mudam suas expectativas para a economia americana. Anteontem, circularam no mercado chinês rumores de que o governo do país reduziria o crédito bancário e controlaria o capital externo para conter a forte valorização das ações.

Bolsa da Índia tem maior queda em quatro anos

Esse ambiente de dúvida com relação à China, somado ao aumento da volatilidade no mercado acionário mundial e aos temores de que a economia americana, enfim, esteja perdendo fôlego, continuou afastando os investidores de outras bolsas da região. Japão, Coréia do Sul e Austrália fecharam com baixas de quase 3%.

Para analistas da região, a queda de Xangai pode ter sido apenas um ajuste, mas acabou chamando a atenção para as fragilidades da economia dos EUA e para o risco de investidores americanos e europeus ao aplicarem em papéis de empresas em regiões distantes e mais instáveis economicamente, como a Ásia.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou 1,73%, puxada pelas ações do setor siderúrgico e de petróleo. Ainda assim, está longe de recuperar as perdas de mais de 6% registradas anteontem. Nos EUA, onde as Bolsas caíram mais de 3% na véspera, o índice Dow Jones subiu 0,43% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 0,34%.

Na Índia, a bolsa teve sua maior queda em quatro anos - 4,01% - devido ao aumento de impostos sobre serviços de informática e cimento, bem como sobre os dividendos pagos pelas empresas. O governo proibiu ainda a negociação de contratos futuros de trigo e arroz, para conter a inflação.

Merrill Lynch: fundamentos dos emergentes não mudaram

Em relatório, o banco de investimentos americano Merrill Lynch, afirma que, apesar da queda recente dos mercados, continua apostando numa valorização dos papéis de empresas da América Latina. O analista Tulio Vera avalia que não houve deterioração nos ânimos dos investidores nem nos fundamentos dos mercados emergentes, mas que pode haver novas perdas.

Após disparar 11% na véspera, o risco-Brasil, indicador da confiança dos estrangeiros no país, recuou 3,98%, para 193 pontos centesimais. A média de risco dos emergentes, calculada pelo banco de investimentos JP Morgan, caiu 4,21% ontem, para 182 pontos.

Apesar de uma maior tranqüilidade em relação à véspera, os negócios foram marcados por forte volatilidade em todos os mercados. O dólar oscilou 1% da máxima (R$2,134) à mínima do dia (R$2,113), mas fechou praticamente estável, a R$2,121, em alta de 0,04%. A moeda, que caía à tarde, voltou a subir próximo ao fim dos negócios, após um leilão de compra de dólares pelo Banco Central, por R$2,117. O volume total negociado no mercado de câmbio foi de US$5,7 bilhões, e, segundo operadores, o BC teria comprado mais de US$1 bilhão.

(*) Correspondente