Título: As soluções são simples
Autor: ARNALDO NISKIER
Fonte: O Globo, 18/11/2006, Opinião, p. 7

Ninguém pode se sentir feliz quando a Unesco anuncia a colocação do BrAsil, no concerto internacional, em matéria de cuidados com a educação: 72º lugar. Culpa-se o alto índice de reprovação, abandono e evAsão escolar, como se fossem causAs distintAs de uma só realidade: a baixa renda familiar do nosso povo, sinônimo cristalino da falta de empregos.

É claro que o novo governo, ungido por 58 milhões de votos, no que foi considerado um fenômeno mundial, pode modificar esse quadro com políticAs públicAs efetivAs, de melhoria da qualidade do ensino, para que os brAsileiros, em geral, possam pescar com a competência dos seus próprios anzóis. Ações Assistenciais, bolsAs disso e daquilo, trazem alívio, mAs não eliminam a dor que acompanha o sofrimento dos nossos milhões de miseráveis.

Dentro desse processo, avulta a questão do magistério. Foi falando nisso, com insistência, que Cristovam Buarque obteve 2,5 milhões de votos. É a questão número um, em todos os sistemAs de ensino. Fica difícil explicitar, hoje, o que é um declínio de décadAs. Há 50 anos era possível a um professor, com a sua remuneração, viajar uma vez por ano, de vapor, para qualquer parte do mundo. Hoje, sem gordurAs em seus ganhos, ele mal pode sair de cAsa. Ainda Assim, para trabalhar em três e até quatro lugares. Cadê o tempo para o estudo e o lazer?

No Rio de Janeiro, a evAsão é pequena, bem menor do que a média nacional: 7%. O abandono escolar se acentua no segundo segmento do ensino fundamental (últimAs séries) e no ensino médio. Parece uma contradição, mAs é essa a realidade. Em pesquisa que fizemos, há uma causa determinante desse fenômeno: alguns pais estimulam a saída da escola, pois precisam de braços para o trabalho, em geral, nAs atividades do campo. O plantio e a colheita tornam-se preferíveis ao estudo, ainda mais quando este não tem os atrativos necessários. Assim se joga contra o futuro de uma nação, que se deseja livre e desenvolvida.

Que somos um país de contrAstes, não há dúvida. Enquanto muitAs escolAs precisam de coisAs elementares, como giz, cadernos, lápis e livros, outrAs (felizmente) alcançaram o estágio da nova era. Terão até dezembro 441 laboratórios de informática, na rede pública, cada unidade contando com 10 computadores, enquanto o MEC anuncia para março do ano próximo, só no Rio de Janeiro, mais 330. É a sonhada integração com a União, que começa a se tornar realidade.

Outra particularidade a ser Assinalada é a questão do tempo integral.

Respeitados os saberes e a autonomia de ser do educando, como gostava de afirmar Paulo Freire, resta ao sistema caminhar para o tempo integral, no mínimo seis horAs de aulAs por dia. Não porque seja comum nos países desenvolvidos, como os da Escandinávia, mAs porque não temos outra saída se não ensinar mais e melhor.

Como isso pode acontecer com escolAs submetidAs a três ou quatro turnos diários? Fizemos levantamento, no Rio, para garantir que em 2007 será possível contar com 250 escolAs de tempo integral, com a possível aceleração de um processo que poderá terminar o ano com mais 50. Onde houver espaço e número suficiente de professores não restará outra alternativa à autoridade pública. Aliás, que precisará mesmo realizar concursos, para cobrir lacunAs em disciplinAs como matemática, física e química, além dAs inevitáveis aposentadoriAs.

Se quisermos uma boa educação - e parece ser este o desejo de todos - o quadro se completa com a edição de um revolucionário Plano de Cargos e Salários, pagando ativos e inativos de forma bem mais decorosa. As soluções são relativamente simples, sobretudo quando se anuncia um grande aumento na arrecadação do estado. Que ele sirva para dar mais atenção à prioridade dAs prioridades.

ARNALDO NISKIER é secretário de Educação do Rio.