Título: ACIDENTE DA GOL: INVESTIGAÇÕES PARADAS
Autor: Anselmo Carvalho Pinto e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 31/10/2006, O País, p. 15

Controladores de vôo usam atestado médico para não prestar depoimento

BRASÍLIA e CUIABÁ. As investigações da Polícia Federal sobre a queda do Boeing 737-800 da Gol, o maior acidente aéreo do país, estão paradas. O delegado Renato Sayão teve que interromper a apuração sobre a morte das 154 vítimas do desastre por causa do cancelamento dos depoimentos de dez controladores de vôo marcados para ontem e hoje. Os controladores rejeitaram a intimação da PF com a alegação de que estão licenciados para tratamento psiquiátrico desde 29 de setembro, dia do acidente.

O delegado também foi impedido de ter acesso as caixas- pretas do Boeing e do Legacy, supostamente o pivô do desastre.

Os depoimentos estavam marcados, desde a semana passada, para começar ontem pela manhã. Com um único atestado médico enviado à polícia, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) informa que os controladores estão de licença médica até o próximo dia 13. Eles estariam sob observação psiquiátrica desde a queda do Boeing.

A polícia investiga se o desastre foi provocado por imprudência dos pilotos do Legacy, problemas mecânicos ou falha do serviço de controle do tráfego aéreo, entre outras possíveis causas. As investigações estavam prejudicadas desde a semana passada, quando o Cenipa anunciou que não repassaria à PF os dados das caixas-pretas.

Renato Sayão recorreu à Justiça Federal de Sinop, no Mato Grosso, mas o juiz Charles Frazão Moraes disse que não assinará nenhuma decisão até que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decida de quem é a competência para conduzir o caso. Até então, as investigações vinham sendo feitas pela PF, sob a supervisão da Justiça Federal, e pela Polícia Civil do Mato Grosso perante a Justiça estadual.

Uma das 154 vítimas ainda não foi localizada

Ontem, parentes do bancário Marcelo Paixão Lopes embarcaram para a Floresta Amazônica para acompanhar as buscas pelo corpo do rapaz, a única vítima ainda não localizada. Funcionário do HSBC, Lopes tinha 29 anos e estava viajando a trabalho com dois amigos.

A assessoria de imprensa da Aeronáutica informou que as equipes de resgate tinham a intenção de levar os parentes de Lopes até a clareira aberta na mata, onde eles deixariam flores, uma placa de metal com alguns dizeres e uma fotografia do rapaz, mas o mau tempo fez com que a ida até o local tivesse que ser adiada.

*Especial para O GLOBO