Título: AJUSTAR E CRESCER, ETERNOS DESAFIOS
Autor: Hélio Magalhães
Fonte: O Globo, 16/09/2006, Opinião, p. 7

Aperspectiva de que o Brasil cresça menos de 3,5% este ano traz de volta a sensação de que estamos fadados a conviver com taxas de variação do PIB na faixa dos 2% a 3% ao ano, muito abaixo do crescimento das economias com as quais produtos e serviços brasileiros competem.

Mais crescimento significa mais renda, mais mercado, emprego e investimento. Um PIB robusto ajuda a redistribuir a renda e contribui para aumentar a arrecadação fiscal, permitindo que o Estado recolha parte da renda gerada a maior legitimamente, e não da maneira como vem atuando, pelo aumento de alíquotas e a criação de impostos e contribuições que abocanham parte cada vez maior do setor privado, sem que a sociedade saiba para onde vai tanto dinheiro. No ano passado, a carga tributária ficou próxima a 40% do PIB, resultado que o governo anuncia como grande façanha, ignorando o significado disso em termos de atraso e perdas de oportunidade para a economia.

Com o objetivo de chamar a atenção para as questões centrais, que há anos atrapalham o desenvolvimento econômico e social do Brasil, foi criado em março deste ano o Movimento Quero Mais Brasil. Artistas, intelectuais, empresários, executivos, esportistas e líderes de vários segmentos juntaram-se para levar adiante a idéia de que é possível trabalhar com o paradigma da maior participação das forças sociais para garantir mudanças em prol de uma educação pública de melhor qualidade, mais segurança pública e melhor segurança institucional, transparência nos impostos e gastos públicos e implementação das reformas da Previdência, das leis trabalhistas e do sistema tributário nacional.

A economia precisa se livrar dos nós que a amarram há anos, em prejuízo da grande massa da população que se mantém à margem das conquistas mínimas necessárias para a inserção no processo produtivo. É preciso reduzir a burocracia, facilitar o papel do setor privado na função do crescimento, viabilizar investimentos de longo prazo e montar uma infra-estrutura moderna. Enfim, é preciso arejar as mentes e sacudir os corpos de modo a que todos se conscientizem da importância do exercício da cidadania.

Justamente esta é a finalidade do Quero Mais Brasil. O movimento tem mobilizado os brasileiros para contrapor o imobilismo, a ¿paradeira¿, o descrédito e a retórica de ¿país do futuro¿. Seu motor principal é a indignação que acomete os cidadãos em geral, que se sentem impotentes diante da alta carga de impostos e da mania dos governos, nas três esferas administrativas, de negar à sociedade o legítimo direito à informação clara e transparente dos orçamentos públicos, fontes e usos da verba pública e explicações detalhadas de decisões que impliquem aumento de despesas.

Em seis meses de existência, o Quero Mais Brasil já obteve mais de meio milhão de adesões e apoio de quase 300 entidades representativas de diversos setores. É um movimento que está acima dos partidos e dos políticos, a favor do país. As adesões são colhidas através do telefone 4002-8988, das cédulas disponibilizadas nas grandes redes de varejo em todo o país e do site www.queromaisbrasil.com.br, que contém informações e declarações de apoio de artistas, médicos, empresários e outros brasileiros. O movimento tem marcado presença em feiras e exposições, além da mídia em geral, através da campanha que busca chamar a atenção da sociedade para os principais temas da mobilização.

O que se vê desde março nas manifestações espontâneas de pessoas de todas as classes, de diferentes áreas de atividade e de interesses os mais diversos é, sem dúvida, um atestado do potencial deste país e do quanto se pode crescer e avançar com um padrão de vida de qualidade e com conquistas que garantam um presente melhor. Chega de país do futuro!

HÉLIO MAGALHÃES é presidente do Conselho de Administração da Câmara Americana de Comércio (Amcham).

N. da R.: Excepcionalmente, Zuenir Ventura não escreve hoje