Título: ALGAS SÃO A NOVA ARMA DA CIÊNCIA CONTRA A OBESIDADE
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Fonte: O Globo, 13/09/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 36

Pigmento presente nos vegetais se mostra capaz de reduzir em até 10% o peso corporal de ratos e camundongos

SÃO FRANCISCO. Cientistas acabam de descobrir uma improvável arma em potencial contra a obesidade: algas marinhas marrons. Numa experiência feita em laboratório os especialistas descobriram que camundongos e ratos que receberam fucoxantina - um pigmento presente em alguns dos vegetais - perderam até 10% de seu peso corporal, sobretudo na região da barriga.

Os pesquisadores, da Universidade de Hokkaido, esperam que, a partir da substância, possam ser desenvolvidos suplementos alimentares ou medicamentos que auxiliem na perda de peso. O estudo foi apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Química, em São Francisco.

A alga estudada (Undaria pinnatifida) é um dos principais ingredientes da sopa japonesa missô. Mas, segundo os cientistas, ingerir grandes quantidades da sopa numa tentativa de perder peso teria um efeito praticamente nulo.

A fucoxantina em estado natural se apresenta extremamente ligada a proteínas da alga e não é facilmente absorvida pelo organismo. Segundo os cientistas, coordenados por Kazuo Miyashita, serão necessários de três a quatro anos de estudos para que um medicamento à base da substância seja desenvolvido e esteja disponível para a população.

O composto é encontrado em diferentes níveis em diversas algas marrons. Mas não em algas verdes ou vermelhas, também utilizadas na culinária asiática.

Substância induz à quebra de células de gordura

O grupo de Miyashita estudou os efeitos da fucoxantina em mais de 200 ratos e camundongos e descobriram que a substância atua em duas frentes. Em animais obesos, o composto estimula a produção de uma proteína chamada UCP1, responsável pela quebra das células gordurosas. A proteína atua sobretudo no excesso de gordura na região da cintura - gordura particularmente relacionada a problemas cardíacos e diabetes.

Em outra frente, o composto induz o fígado a produzir um tipo de ácido capaz de reduzir os níveis do chamado colesterol ruim, associado a obesidade e problemas cardíacos. Os cientistas não constataram nenhum efeito colateral da substância nos animais testados.

- A possibilidade de termos uma droga sem efeitos colaterais é bastante atraente, mas está longe de ser uma pílula antiobesidade - afirmou Ian Campbell, diretor da ONG Weight Concern. - E ainda não sabemos qual será o resultado em pessoas nem por quanto tempo. Remédios, por melhor que sejam, são um paliativo. Uma mudança de estilo de vida e alimentação ainda é a solução mais recomendável.