Título: O Brasil do IBGE não passa no programa do PT
Autor: Mariza Louven/Ciça Guedes
Fonte: O Globo, 06/09/2006, O País, p. 12

Na TV, Lula ignora indicadores negativos da economia; já Alckmin nem muda programa e dá 'boa noite' à tarde

O programa do PT no horário eleitoral, ontem à tarde, usou artifícios para mostrar um desempenho da economia brasileira que não corresponde àquele que os índices vêm apresentando nos últimos meses. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, estabeleceu vínculo entre os avanços obtidos no combate à desiguldade social com o Bolsa Família e um "novo ciclo de desenvolvimento econômico" que, de acordo com ele, o Brasil está pronto para viver.

O programa petista enumera uma série de dados macroecômicos - como dívida com o FMI zerada, queda de gastos com juros da dívida externa, maior saldo externo desde 1947, recorde nas exportações e queda da desiguldade social - exibindo manchetes de jornais para, em seguida, voltar a falar do Bolsa Família e de outras ações, como o Brasil Sorridente e o Luz para Todos, e novamente apresentá-las como resultado do crescimento do país.

Porém, de acordo com os dados divulgados pelo IBGE no dia 31 de agosto, o Produto Interno Bruto (PIB) apurado no primeiro semestre deste ano não aponta nesse sentido: o crescimento foi de apenas 2,2%. No segundo trimestre, a economia brasileira cresceu somente 0,5%. Com esses resultados, o Brasil ficou em último lugar entre os países em desenvolvimento. A China cresceu 10,9%, a Índia 5,5%, o Chile 4,5% e a Argentina, 2,2%.

Diferentemente do que mostra o programa de Lula, os índices divulgados no fim de julho e em agosto foram particularmente desfavoráveis em termos de boas novas: aumento da carga tributária, dos gastos de custeio e do índice de desemprego foram notícias de primeira página. Mesmo assim, os petistas listaram entre os eventos positivos o crescimento da arrecadação federal em 4,37% ("bate mais um recorde"), enquanto a carga tributária chega a 37,37% do PIB, a maior de todos os tempos.

A taxa de desemprego, segundo a pesquisa mensal do IBGE, pouco se alterou. Subiu de 10,2% em maio para 10,4% em junho e 10,7% em julho.

À noite, PSDB rebate Lula

No programa da tarde, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, sequer trocou o programa exibido anteriormente à noite. "Boa noite", disse ele ao cumprimentar os eleitores.

Já na noite de ontem, o PSDB rebateu as afirmações do PT contrapondo imagens de Lula, em maio de 2003, prometendo que "o espetáculo do crescimento vai começar" com manchetes recentes de jornais sobre o mau desempenho da economia, como as que diziam: "Nossa economia cresce só 0,5%", "Consumidor endividado", "Comércio começa a demitir", "Casas Bahia reduz investimento e corta vagas", "Brasileiro nunca pagou tanto imposto", "Orçamento de Lula para o ano que vem prevê mais imposto ainda". "Onde está o espetáculo do crescimento?", perguntou o apresentador.

- As demissões que estão acontecendo na indústria e no comércio são resultado da política do atual presidente, que faz o brasileiro pagar cada vez mais imposto, que sufoca as empresas, que segura o investimento. Em conseqüência, os empregos desaparecem - disse Alckmin.

O tucano também voltou a bater na tecla da corrupção:

- O governo precisa dar o exemplo, com política de crescimento e honestidade. Quando tem corrupção na sala ao lado e quem tinha que ver faz que não viu, é o seu dinheiro, é o dinheiro que você paga impostos que está sendo desviado. O que o Brasil precisa não é de imposto alto e nem de corrupção.