Título: CGU: PF ENCONTRA RECIBO DE SUBORNO
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 29/07/2006, O País, p. 12

Servidores recebiam dinheiro de empresas fraudadoras de licitações

BRASÍLIA. Um relatório da Controladoria Geral da União sobre o material apreendido pela Operação Mão de Obra, deflagrada na última quarta-feira, indica que funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Ministério da Ciência receberam suborno para fornecer informações privilegiadas a um grupo de três empresas acusadas de fraudar licitações em quatro ministérios, na Abin e no Senado, totalizando 25 órgãos da administração federal.

Entre os papéis apreendidos estão comprovantes de depósitos das empresas suspeitas, a Conservo, Ipanema e Brasília Informática, em contas de funcionários da Abin e do Ministério da Ciência e Tecnologia. Para a Polícia Federal, que está à frente das investigações, os documentos são claros indícios de pagamento de propina aos servidores públicos cúmplices da organização.

Vinte auditores fazem devassa em documentos

A Conservo, Ipanema e Brasília Informática, suspeitas de combinarem o resultado de licitações de órgãos federais com base em informações repassadas pelos servidores envolvidos no esquema, receberam R$182,8 milhões do governo federal em 2005 e 2006, por serviços de limpeza, segurança e informática, entre outros. Somente a Conservo, que presta serviço de limpeza e segurança, recebeu R$123,8 milhões desde 2005, nos 18 contratos que mantém com órgãos federais. Uma equipe de 20 auditores fez uma devassa nos documentos apreendidos nos ministérios da Justiça, Ciência e Tecnologia, Transportes, de Minas e Energia, Senado e Abin a pedido da Polícia Federal.

Entre os seis presos na primeira etapa da Operação Mão de Obra está Geraldo Luiz Ferreira dos Santos, funcionário da área de licitações da Abin. Mas a PF acredita que o número de servidores que prestavam serviço à organização é maior. Pelo menos mais sete, cujos nomes não foram divulgados, estão sob investigação.

O relatório da Controladoria-Geral aponta fortes indícios de manipulação de licitações e formação de cartel entre a Conservo, Brasília Informática e Ipanema na disputa por uma cobiçada fatia dos serviços terceirizados do governo federal.

Para a PF, as informações ajudam a caracterizar os crimes de corrupção e formação de quadrilha pelos quais são acusados aos empresários Victor Cugula, da Conservo, José Carvalho Araújo, da Ipanema e Márcio Pontes Veloso, da Brasília Informática. Com base nestes dados, a polícia também já pediu a renovação da prisão temporária de Ferreira dos Santos e Rosana de Souza por mais cinco dias. O prazo das prisões vence amanhã. Os demais acusados estão sob prisão preventiva, que pode durar até 30 dias