Título: ADVOGADA ENTREGAVA CLIENTES
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 12/07/2006, O País, p. 3

Defensora de bandidos de facção criminosa de SP repassava a eles informações sobre vítimas

Aadvogada Adriana Tellini Pedro admitiu ontem, em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, que entregou seus próprios clientes para integrantes da principal facção criminosa de São Paulo. Ela reconheceu ter dado aos criminosos informações sobre o paradeiro de um homem que portava R$30 mil, como revelaram escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil de São Paulo. Após ser pressionada pelos deputados da CPI, Adriana disse em sessão reservada que fez tudo por amor ao chefe da facção preso na cidade de Franca, identificado apenas como Evandro e conhecido como Lobisomem. Ouviu uma reprimenda veemente do presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), que a acusou de pôr em risco a vida de várias pessoas.

As escutas divulgadas em maio mostraram Adriana dando informações sobre o paradeiro do cliente a Eurípedes Moura Júnior, de 26 anos, conhecido como Perna, que estava preso na cadeia do Jardim Guanabara. Ela acabara de concluir um processo de partilha de bens de R$50 mil para um casal que se separou quando telefonou para o bandido. "O marido dela foi embora com R$30 mil no bolso... Ele foi sozinho, ainda dá tempo". Após receber orientações da advogada, Perna teria repassado as orientações a soldados da facção, mas o assalto acabou não acontecendo.

- Fiz isso por pressão, estava envolvida - disse Adriana, segundo integrantes da CPI que a interrogaram.

Numa conversa com um outro criminoso não identificado, Adriana dá detalhes da rotina do cliente, que teve o nome preservado: "Ele trabalha na Sapucaí Couros. É uma rua sem saída. Lá no escritório deles é mamão com açúcar, não tem guarda. É só entrar lá. Eu falei para o Juninho (Perna): 'Vai para a estrada que você pega ele'. Se tivesse ido, teria pegado. O Juninho é devagar demais. Falei para ele: 'Sai daqui agora que vai grudar. Vai pegar R$30 mil limpinho'".

Versões diferentes para as gravações

Pouco antes, quando a sessão era pública, Adriana já confirmara os diálogos gravados mas deu outras versões: primeiro disse que passou as informações para os assaltantes por infantilidade e depois para testar se estava sendo grampeada. Ela ainda tentou se defender dizendo que as dicas estavam erradas e que o roubo não foi consumado. Mas, pressionada, acabou dizendo que não falava a verdade por temer represálias da facção criminosa e pediu para falar reservadamente.

Na sessão secreta, a advogada contou que se apaixonou por Evandro, que seria o chefe da facção no município, e passou a visitá-lo e a receber ligações dele de dentro do presídio. Suas contas de telefone, contou, chegavam a R$3 mil. Mas segundo a versão de Adriana, após alguns meses de namoro, o criminoso passou a ameaçá-la de morte, exigindo que ela desse conselhos para roubos e que advogasse para seus comparsas. Ela admitiu ter defendido oito criminosos da organização.

- Você colocou a vida de pessoas em risco. Por sorte, não foram mortos - repreendeu o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan.

No dia 11 de junho, Perna conseguiu fugir da cadeia. Na madrugada seguinte, ele foi preso nos fundos do escritório de Adriana. Acusada pelos crimes de associação para o tráfico, formação de quadrilha e estelionato, ela acompanha as investigações em liberdade. Adriana foi suspensa pela OAB.

- Hoje existe um grupo de advogados que atuam como agentes do crime e usam a carteira da OAB como arma - disse o deputado Neucimar Fraga (PL-ES), da CPI.