Título: Desnutrição cai, mas revela desigualdade social
Autor: Fernanda da Escossia
Fonte: O Globo, 24/06/2006, O País, p. 10

Proporção de crianças abaixo do peso mostra abismo: 1,5% nos 20% mais ricos e 8,7% nos 20% mais pobres

Numa tendência iniciada nos anos 70, a desnutrição infantil segue em queda no Brasil, mas ainda afeta 1,89 milhão dos menores de dez anos. Do total da população dessa faixa etária, 5,8% têm déficit de peso, um dos sinais de desnutrição; a taxa é de 7% nas crianças menores de cinco anos e 4,6% na faixa de 5 a 9 anos. Quase restrita às faixas mais pobres da população e à área rural da região Norte, a desnutrição é uma das medidas da desigualdade social brasileira: para crianças menores de cinco anos, a taxa de desnutridos é apenas 1,5% nos 20% mais ricos da população, mas chega a 5,8 vezes esse valor, 8,7%, entre os 20% mais pobres.

Para permitir a comparação com resultados de pesquisas anteriores, foi preciso um ajuste nos dados, que, corrigidos, indicam 4,6% de baixo peso nas crianças de 0 a 4 anos e 2% nas de 5 a 9 anos. Trinta anos antes, no biênio 1974-1975, 16,6% das crianças com menos de 5 anos tinham déficit de peso. Programas variados de combate à fome e à desnutrição, universalização da vacinação, aliados à melhora dos indicadores sociais do país, reduziram os índices para 7,1% em 1989 e 5,6% em 1996. Os anos 70 também foram marcados pelo crescimento econômico e pelo aumento na produção de alimentos no Brasil.

¿ Um conjunto de políticas ao longo dos anos foi reduzindo a desnutrição. Hoje as taxas já podem ser consideradas relativamente baixas, pelo padrão internacional ¿ afirma o analista do IBGE Edilson Silva, gerente da pesquisa.

As desigualdades regionais também continuam: no Norte, a taxa de déficit de peso entre os menores de 5 anos é 8% e no Nordeste, 5,4%. O pior dado é para a área rural da região Norte, onde a proporção de crianças com baixo peso é de 11%.

Brasil está entre os de menor nível de desnutrição

Um estudo da Organização Mundial da Saúde sobre países em desenvolvimento citado pelo IBGE considera quatro níveis de prevalência da desnutrição de crianças abaixo de 5 anos: relativamente baixa (abaixo de 10%), moderada (de 10 a 19,9%), alta (de 20 a 29,9%) e muito alta (acima de 30%). A taxa de desnutrição hoje no Brasil, abaixo de 5%, pela média corrigida, fica em níveis baixos, de acordo com esse estudo, comparável à da Venezuela (6,2% em 2000) e à da Colômbia (6,7% em 2000). Foi considerada moderada a taxa de Equador (14,3%) e Haiti (17,2%), alta a de Moçambique (23,7%) e muito alta a de Angola (30,5%) e Etiópia (47,2%).

O déficit de altura nos adolescentes também vem diminuindo. No sexo masculino, a taxa, de 33,5% em 1974-1975, caiu para 20,5% em 1989 e atingiu 10,8% em 2002-2003. No sexo feminino, caiu de 26,3 % para 16,9% e 7,9% no mesmo período.

A renda da família e a região em que ela vive influem na altura dos filhos. Nas famílias mais pobres, há déficit maior do crescimento. Em média, as crianças das regiões Sudeste e Sul têm altura maior. Um menino de sete anos, por exemplo, mede 120,3 cm no Norte, 121,4 no Nordeste, 123,9 cm no Centro-Oeste, 124,5 cm no Sudeste e chega a 125,3 cm no Sul. O padrão adotado internacionalmente, segundo o Nacional Center for Health Statistics (EUA) é 124,9 cm.