Título: MASSACRES, LIMPEZA ÉTNICA E NEGLIGÊNCIA
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2006, O Mundo, p. 42

Negros se dizem prejudicados por árabes

O conflito em Darfur começou em 2003 com a rebelião de um grupo local contra o governo central de Cartum, controlado pela minoria árabe do país e acusado de negligenciar aquela região de maioria negra no sudoeste do Sudão. Antes mesmo disso, já havia tensões entre a população negra e os árabes (em sua maioria nômades) por causa de terras e direitos de pastagem.

O rebelde Exército de Libertação do Sudão (ELS) começou a atacar alvos governamentais e as autoridades em Cartum responderam mobilizando milícias paramilitares árabes para conter a revolta. Logo um outro grupo rebelde juntou-se aos ataques ao governo, o Movimento de Justiça e Igualdade (MJI). A divisão interna entre os rebeldes foi um fator a mais de complicação para a assinatura de um acordo de paz, pois eles próprios não chegam a adotar uma plataforma única de reivindicações.

O governo central, no entanto, nega qualquer envolvimento com as chamadas milícias Janjaweed, acusadas de promoverem limpeza étnica em Darfur, espalhando terror nas aldeias. Segundo testemunho de refugiados, os milicianos árabes, montados em cavalos e camelos, massacram os habitantes, estupram as mulheres e roubam o que conseguem levar após bombardeios da avião governamental. Muitas mulheres acusaram os Janjaweed de manterem-nas como escravas sexuais por um período antes de libertarem-nas.

Grupos de direitos humanos e o governo dos EUA falam de genocídio, mas uma equipe de investigação da ONU enviada à região disse que embora crimes de guerra tenham sido cometidos, não há indícios de uma aniquilação planejada da população. A situação de direitos humanos, no entanto, continua precária, segundo afirmou a alta comissária de Direitos Humanos, Louise Arbour. O próprio governo central procura afastar-se de qualquer vínculo com os Janjaweed e o presidente Omar al-Bachir já os tachou de ¿ladrões e gângsteres¿.