Título: ACERTO DE BUSH
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Fonte: O Globo, 02/02/2006, Opinião, p. 6

Dos cinco discursos do presidente George W. Bush sobre o Estado da União, apanhado anual que fazem os presidentes americanos sobre as condições do país e as prioridades de governo, o de anteontem foi o que mais agradou, não tanto pelo conteúdo como pela sobriedade.

Deixando de lado a retórica triunfalista de comandante-chefe de uma nação em guerra, Bush tocou num ponto vital para os americanos e o resto do mundo: o consumo de petróleo, que tende a aumentar enormemente com o surgimento de potências econômicas como China e Índia.

O presidente começou admitindo que os americanos são ¿viciados em petróleo¿. Dito isso, insistiu na necessidade de buscar outras fontes de energia e propôs como meta para o seu e os próximos governos substituir até 2025 mais de 75% do petróleo que os EUA hoje importam do Oriente Médio.

Na prática, é duvidoso que tal meta seja alcançável dentro do prazo indicado. Até que ponto, por exemplo, o presidente teria condições de convencer o povo americano a aceitar novos impostos sobre combustível para financiar as pesquisas necessárias? E mesmo que os EUA reduzissem drasticamente as importações do Oriente Médio, dizem especialistas, ainda assim os países da região continuariam a controlar os preços do petróleo no mundo.

De qualquer forma, o alerta é oportuno, levando-se em conta que Bush se comportou no primeiro mandato como se as reservas de energia do planeta fossem inesgotáveis ¿ e como se os efeitos do consumo crescente do petróleo no clima do planeta não dissessem respeito ao seu governo, nem aos EUA.

Um corte na dependência das fontes de energia do Oriente Médio poderia se refletir positivamente também na luta contra o terrorismo. Com sua sede de petróleo ¿ o vício a que se refere Bush ¿ o consumidor americano patrocina, indiretamente, grupos terroristas que vicejam nos regimes opressivos da Arábia Saudita e do Irã.

Há um bem-vindo efeito colateral da nova política energética de Bush: se for implantada, será bom para o Brasil, que já domina a tecnologia de combustíveis alternativos, como o álcool. Palavras do ¿New York Times¿.